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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Há uns dias atrás em conversa com um leitor a propósito dos tempos que testemunhamos actualmente, sobressaiu o acontecimento do 25 de Abril de 1974. Perguntei, o que fazia nesse dia, que mudou o paradigma político e social até então. Respondeu que estava a trabalhar, na fundição do Rossio ao Sul do Tejo. Soube da notícia, da queda do governo de Marcelo Caetano, nesse dia, até de madrugada não tirou os ouvidos da telefonia. Na fábrica o dia de trabalho decorreu normalmente. O (...)
Os pequenos leitores olham as páginas do futuro, o largo, onde o inverno se despede chorando sem parar. Sonham com os ovos da Páscoa, com o Dia do Pai. Descrevem a prenda feita na escola, arrumadas numa sala, aguardando o dia para surpreenderem o pai. A brincadeira ocupava-os a manhã toda, a chegada da biblioteca ambulante retirou-lhes o divertimento. Trouxe-lhes as histórias, desafiou o grupo a ouvirem a Sílvia a ler «Às vezes um abraço não chega». O ruído não gostou muito (...)
A súbita, subida da temperatura, esmoreceu o viajante das viagens e andanças. Na biblioteca ambulante, sonha com a praia, a ler numa espreguiçadeira, a refrescar-se nas águas do rio. As portas abertas permitem a circulação do ar fresco, a agilidade dos raios solares penetrarem para beijarem as histórias. Trazerem esperança há presença de mais leitores, de curiosos a espreitarem as novidades nas primeiras páginas dos jornais diários. A propósito das próximas celebrações dos (...)
A neblina dissipou-se, deu o lugar ao sol no pano azul preparado para a pintura do dia. Em Alferrarede Velha, as bancadas dos vendedores ambulantes estão a abarrotar de roupa para vender. A roupa anda de mão em mão, colocam-na defronte das ancas, tiram a medida a olho, não serve, atiram-na para cima do que está exposto. Estão o tempo todo nisto, até acertarem na saia, nas calças, ou camisola, para estrearem ou oferecerem aos afilhados na Páscoa. Os mesmos gestos repetem-se na (...)
Os espaços na rua, possíveis para o estacionamento da biblioteca ambulante na aldeia da Amoreira, estavam ocupados. Quando assim é, a solução é seguir em frente, na direcção de um espaço amplo, rodeado por amoreiras. No verão geram uma sombra agradável, onde as histórias se acalmam da inclemência do sol abrasador. Hoje não há sol, não está frio, a temperatura delicada resiste, aos comentários, vários, dos leitores, das pessoas, relacionados com as eleições do dia de (...)
A confusão instalou-se nas cabeças das mulheres na aldeia do Tubaral. A padeira ainda não chegou com o pão, a biblioteca ambulante, buzinou freneticamente, copiando a carrinha do pão. Sem intenção, induziu em erro as mulheres com o estratagema do serviço concorrente. Uma destas mulheres, insiste, mencionar em voz alta, para outra, colocada de atalaia ao pão, mais abaixo na rua. É um dia igual aos outros, não se cansando a repetir estas palavras, insensíveis, relacionadas com a (...)
Ontem, aconteceu um episódio com a biblioteca ambulante, ao deixar o rasto das histórias, as últimas casas, na derradeira aldeia do dia. Atento à estrada na condução da mercadoria valiosa, o olhar do viajante das viagens e andanças é interrompido momentaneamente na ligação ao destino. A impaciência das luzes projectadas a partir de uns faróis de uma carrinha pick-up, aproximando-se rapidamente do espelho retrovisor lateral da biblioteca ambulante. Ao tentar perceber a (...)
Enquanto houver estrada para andar, pessoas para conquistar, e leitores para lerem, a biblioteca ambulante continuará a estacionar nas aldeias da minha terra. Um início promissor esta manhã aconteceu, ao atravessar uma aldeia para chegar a outra como destino. A saudação com o braço levantado de uma leitora, não há nada mais motivador para o viajante das viagens e andanças, o reconhecimento daqueles que usam e abusam das histórias, à passagem apressada nas suas aldeias da (...)
A biblioteca ambulante, é e será sempre uma janela aberta nas aldeias da minha terra. Onde os aldeões, os leitores, possuem a sorte, estarem debruçados para a Rua dos Saberes. Verem passar as palavras, as letras de mãos dadas umas com as outras, conhecerem de perto quem as empurra pela rua adiante. Há sempre olhares sedutores de quem passa, para quem está sempre de olho à espreita. A torrente de palavras na rua não tem fim, umas atrás das outras, a provocarem risos, a puxarem (...)
Na pastagem a disputa pela erva macia está ao rubro, com os mais novos a não largarem a sombra das progenitoras. Os que estão de pança cheia, estão deitados a aproveitarem os raios do sol, indiferentes ao que se passa ao redor. Enquanto as nuvens não impedem os traços do sol, acertarem no lugar onde os animais pastam. Na rua a conversa está ao rubro defronte do café, vozes roucas, competem pela sua vez de falarem, ao mesmo tempo só gera confusão e ruído. O cheiro intenso, (...)