Fonte na aldeia de Água Travessa
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A luz viva desta tarde golpeia-me a vista, as clareiras no espaço infinito são enormes, mostram a cor azul, apesar do forte exército de nuvens não deixar de nos sobrevoar como se fossem dirigíveis, umas maiores que outras, mas todas no mesmo sentido empurradas pelo ar em movimento. Ainda me estou a habituar ao brilho, é uma novidade nestes últimos dias, a quantidade de calor é superior, as sombras das árvores são bem vindas, acolhendo a biblioteca ambulante e as suas histórias. As viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, estacionaram na aldeia da Chaminé, onde nada aconteceu, agora na aldeia de Água Travessa, já ocorre interação entre pessoas e livros. Perspectivo um resto de tarde onde diálogos entre aldeões e a minha pessoa irão acontecer, á medida que os livros nas prateleiras são remexidos, outros colocados, não no lugar onde estavam, mas noutro qualquer. Quando assim acontece é bom sinal, a biblioteca ambulante a promover leituras dando a conhecer narrações e pensamentos.
Finalmente as águas do rio despegam-se do longo abraço às sua margens, deixam o seu leito materno ao encontro das águas do rio Ibérico. De mãos dadas as duas vão lançar-se na vasta extensão de água salgada do Atlântico, com elas também vai uma porção de todos nós, os que povoamos os territórios atravessados por elas, adoptando-as como recurso económico. Noutras épocas outros partiram nelas à descoberta de terras novas, foram autênticas estradas fluviais. Na estrada de asfalto onde as viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra me trouxeram até à aldeia das Fontes, limpa-se a mata, na minha opinião, reduz pouco o início de qualquer catástrofe que possa surgir. Preocupante, é a limpeza realizada na demografia destes territórios, principal factor de manifestações de calamidades na actualidade.
A tarde nublosa na aldeia do Souto não impede o surgimento de visitas à biblioteca ambulante, procuram conversa com quem chega da cidade. Querem saber novidades, carecem de informação, de contacto com pessoas que não caibam no seu quotidiano. As viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, traz um pouco disso, os livros , os jornais e mais informação, até o piloto da biblioteca ambulante pode ser uma escolha.
Ao atravessar a ponte apuro que o rio Tejo vai encorpado novamente, as suas águas castanhas, correm velozes ao encontro mais a juzante do oceano Atlântico. A colisão destas duas forças naturais é de uma grande bravura, alívio para todos que dependem de ambas as fontes. Desde montante o rio traz na sua corrente, bastantes nutrientes, absorvidos pela subida e consequente submersão das terras situadas nas suas margens. Estes ao abordarem as águas salgadas, espalham-se no mar imenso, onde a fauna marinha, freneticamente os procura para se sustentar. As terras ficam fertilizadas, originando melhores colheitas, os pescadores têm mais peixe e de melhor qualidade para abastecer os mercados. As viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, têm na biblioteca ambulante a corrente que leva as letras a todas as aldeias longínquas do centro urbano. Também os aldeões as esperam para absorve-las, estruturando-as, causando histórias, contos, romances, tudo o que as letras e seus derivados permitem para crescer e melhorar o seu conhecimento. Espero por vocês na aldeia da Concavada.
A tortuosidade da estrada que me trouxe nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra ao Crucifixo e Tramagal, discorda com os outros dois percursos paralelos localizados mais abaixo. A estrada férrea e a fluvial, esta última por acção do homem já não o é, no longínquo século XVI um rei pilhante da coroa portuguesa, ao mesmo tempo visionário, mandou edificar no seu leito uma obra de engenharia hidráulica, o canal de Alfanzira. Situado no território (Mouriscas) abrangido pelo itinerário da biblioteca ambulante, permitiu na época que as embarcações alterassem as suas rotas na direcção do canal, a fim de evitar as águas mais buliçosas e perigosas, após o desvio tornavam o seu rumo normal dos seus destinos, sendo o principal Lisboa. Também o meu rumo estacionou, nesta tarde primaveril, onde o sol joga às escondidas.
Ao final da manhã as pessoas deslocam-se apressadas pelas ruas e praças, a primavera não atinge o seu auge, a neblusidade estabelece-se, borrifando a parte inicial do dia. Sem esperar, na direcção do objectivo, alcanço o passeio encostado ao muro alto do castelo, os canteiros isentos à meteorologia estão ornados de flores coloridas. Os olhos precipitam-se ao alcançarem a configuração natural da sinuosidade do rio, dando aspecto a uma pera na sua margem norte. Tudo é minúsculo observado cá de cima, até uma máquina agrícola riscando a terra altera-se em algo irrisório. As nuvens aqui estão mais perto, deslocam-se apressadas, umas mais cinzentas que outras para montante, até perder de vista, o panorama é extenso, logo ali as terras planas de Coalhos, cheias de pontos amarelos e vermelhos, mais longe o início do vale que se estende até à aldeia do Vale Zebrinho, para a esquerda a aldeia das casas baixas o Pego, continuando no mesmo sentido as Mouriscas o Sardoal. Noutra orientação o Rossio ao Sul do Tejo as Arreciadas, a coluna de fumo da chaminé da caldeira de escaldar a cortiça da Sofalca tanta vez se confunde com ignições na floresta, mas não passa disso, o resto é terreno plantado de mata.