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Outra manhã quente nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. O verão teima em ficar na estação onde já não é bem vindo, na aldeia de Sentieiras, a esplanada do Mercadinho da Fonte apresenta uma moldura humana, lê-se o jornal, bebe-se café, comunica-se ao mesmo tempo entre todos. No interior os fregueses aviam géneros alimentícios, na biblioteca ambulante também acontece, devoluções de livros, empréstimos de outros. Manhã activa junto da envolvência da biblioteca.
A rádio comercial com o Dia dos One Hit Wonders a soar, é a companhia na biblioteca ambulante nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, desta manhã na deslocação à aldeia da Bairrada. Sopra um vento quente e musculoso de vez enquando. O rio Zêzere a pouco e pouco desvenda as suas margens, mesmo assim continua imponente no seu curso até à muralha que o detém. As histórias nas prateleiras estão expectantes pelos visitantes da biblioteca, aqui cabem todos, ninguém fica de fora, a muralha que contém o rio lá em baixo, não é bem vinda neste lugar.
O início da manhã apontava que o dia iria ser quente, a demonstrar isso mesmo está a temperatura na aldeia do Carril 34º. Assim é a estreia das manhãs nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, na chegada da nova estação o sol cruza o plano do equador celeste (equinócio), brindando este território com ardor. Agora mesmo um aldeão comentou o fenómeno natural e a temperatura, as culturas agrícolas, tudo mudado. As histórias deslocam-se de aldeia em aldeia, trocam-se de uns para outros, andam de mão em mão de escassa população. Os itinerários repetidos sucedem-se semana após semana e cada vez mais se conquista um leitor(a), numa aldeia ou noutra, faça calor ou frio, a biblioteca ambulante não os abandona!
Já se vê o outono, mas na aldeia do Brunheirinho o calor não dá descanso a quem por aqui habita e anda numa biblioteca ambulante, nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. Sentada uma velha resguarda-se na sombra à beira da estrada, enquanto o tempo se estende na tarde. Os visitantes adiam a vinda às histórias junto da fonte, que já deu de beber da sua água fresca ao piloto da biblioteca, a nascente de onde rompem letras, palavras, frases, espera que venha alguém para encher a sua cabeça de aventuras e sonhos!
O interior da biblioteca ambulante, apesar de arejado não impede os 32º graus que o termómetro regista, as viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra avançam de aldeia em aldeia transportando as histórias para quem as queira ler com sofreguidão, morosidade, como lhes aptecer. A tarde incrível neste final de verão, traz os aldeões mais idosos para o largo, á medida que a sombra conquista o seu espaço, este automáticamente se vê ocupado por eles. A troca de palavras, opiniões, ideias, é uma forma de entretenimento de alguns, a leitura e os livros nunca foi entusiasmante, vitímas de ingressarem no mundo do trabalho acabados de sair debaixo das saias das mães, não tiveram oportunidades, coragem, meios, de prosseguirem a escolaridade. Mesmo assim a biblioteca mostra-se acutilando os seus olhares com as histórias!
- Abandonam a terra que os criou, não se vê ninguém, casas todas a cair. - Diz a Ti Piedade! Revoltada, mulher de oitenta e seis anos, vai a São Facundo e volta a pé. O cemitério é a causa da viagem desta mulher à outra aldeia, o irmão que a amava tanto em pequena repousa nesse pedaço de terra eterna! A biblioteca ambulante surge nas aldeias também para tentar inverter o desamparo que muitos destes aldeões passam diáriamente. Com os filhos distantes, vizinhos nem vê-los, entupidos nas suas casas, ou partiram definitivamente, aproveitam os trauseuntes, desabafam as suas mágoas, assim sucedeu hoje na biblioteca.
As festas andam por aí, nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, a biblioteca ambulante nos meses de estio encontra as ruas das aldeias ornamentadas de faixas estreitas coloridas atravessando-as de um lado ao outro, atadas nos pilares que sustentam fios eléctricos ou telefónicos. Para o viajante que vem de passagem ou chega, é um indício de algo festivo, pagão ou religioso irá acontecer ou aconteceu.
A biblioteca ambulante nas suas viagens e andanças pelas aldeias da minha terra, cede as suas histórias o retornar sem interrupções, levando a uns e outros as mesmas, necessita de renovar o seu catálogo. Evitando assim que os seus visitantes percam a curiosidade de voltar para encontrar outras histórias .