Finalmente junto das histórias
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As viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, não progrediram até ao destino, uma prova de ciclismo, Volta ao Futuro, impediu durante um pequeno espaço de tempo a chegada à aldeia de Casais de Revelhos. Um visitante da biblioteca ambulante, aproximou-se da biblioteca exausto, após ter estado demorado pelo mesmo motivo. Mesmo assim alcançou o objectivo de devolver os livros, levando outros. Fico reconhecido por este empenho, o dever de repor as histórias para que outros as possam partilhar, para mim o mais importante é o gosto pela leitura, as histórias há muitas suficientes.
As viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra estenderam-se até ao limite do território da biblioteca ambulante, mais precisamente até à aldeia da Lampreia. Numa tarde agradável de final de verão, hoje sem nuvens a sobrevoar e a ameaçar precipitação. Para apressar a continuidade da tarde, os jornais são o princípio para atemorizar a lentidão, mas também o motor para quem queira perder o receio da leitura e da literacia envolvente que abrange e esconde a maioria das gentes do interior. A biblioteca no seu espaço tem ao dispor alguns títulos para consulta de quem os queira partilhar.
Novamente no Largo do Rossio junto da tília em Martinchel, nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. O obscurecimento é de tal ordem que uns pingos de água caem com alguma tirania na biblioteca ambulante. Os livros com as suas histórias, estão com falta de certeza em relação aos visitantes. Virão ou não? A confiança de que algo de bom acontecerá, fez-me escancarar as portas da biblioteca, de modo a mostrar a quem passa, que as histórias estão aqui.
A vontade de voltar aos livros fazia falta, abri as portas da biblioteca ambulante, inspirei e logo o odor das letras furou as narinas. Para sentir ainda mais, folheei alguns, notei a ausência de outros, permanecem nas aldeias, nas casas dos visitantes da biblioteca. O itinerário é o mesmo, as diferenças estão nos campos envolventes, o milho adolescente já roça a idade adulta, as árvores pejadas de frutos os pimentos com a cor vermelha mais pronunciada, a natureza a acontecer. As viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, seguem pelos territórios das aldeias do Brunheirinho e Vale das Mós, com a convicção de continuar a levar possibilidades a todos os aldeões.
Regresso e as viagens continuam, ainda as luzes dos candeeiros estão a iluminar a despedida da noite, dá-se início a algumas delas. As passadas ritmadas são o que se ouve na madrugada silenciosa, o sol não se levantou, mais adiante os primeiros automóveis surgem, alterando o repouso da alva. No interior dos mesmos, rostos sonolentos dirigem-se para os seus ofícios, outros transportam bens essenciais às populações a norte e a sul. A descida acompanha o rio, lá em baixo os cavalos pastam na pouca erva fresca. Ao chegar ao rio os cães adormecidos, sobressaltam-se com a passagem, ladram protegendo o território da sua guarda. Um gato preto afasta-se com velocidade, levando nas suas mandíbulas, orgulhoso um pequeno rato. Mais à frente outro gato, este branco, encolhido entre as pedras da margem, aguarda a oportunidade de caçar um pato, tarefa inglória. Este pato e os demais, apavorados com os passos apressados, nadam apressadamente ou levantam voo, soltando sons desagradados com o viajante. A sonoridade torna-se mais estridente no meio da folhagem das àrvores com o despertar da passarada, o astro dá os primeiros acenos da sua vitalidade através da sua cor laranja ao erguer-se. Outra manhã desponta, diferente, disputando a beleza das anteriores, igualmente harmoniosas.