Pela manhã entrei na Rua Nova, pelo Largo da Ferraria uma das entradas da cidade na zona norte, a segunda rua de Abrantes como referiu o padre Luís Cardoso. Eduardo Campos na Toponímia Abrantina editada em 1989, escreve de que à falta de outros documentos o toponimo é confirmado a partir de 22 de Abril de 1321. E que em 1707 a rua tinha 17 moradores fintados de entre os quais constam quatro mareantes, um carreteiro, 4 hortelãos, 4 almocreves, e um 1 desembargador. O sossego da rua leva-me a reflectir como seria no passado ou ainda mais atrás, onde só a fortaleza se destacava, o ruído do ferro das espadas embatendo umas nas outras nas disputas, como viveriam as pessoas da rua. Noutro estudo Joaquim Candeias da Silva em Abrantes a Vila e seu Termo no Tempo dos Filipes, edição do ano de 2000, diz que nesta rua em conjunto com outras duas, Rua da Palma e Rua Grande, existiu um convento ( Mosteiro Velho ), até ao ano de 1548, abrigando as freiras da Nossa Senhora da Graça. Muitos antes em 1496 D. Manuel promulgou a lei, na qual os judeus através do baptismo poderiam permanecer no reino, os opositores a esta norma teriam de fugir ou partir, vendendo os seus bens irreflectidamente.Quem ficava tornava-se em Cristão Novo, e como esta rua corre paralelamente à Rua Grande, à época percorrida por quem chegava e partia, o mesmo sucedia com as mercadorias. Assim os cristãos novos posicionaram-se estrategicamente na rua, passando esta a denominar-se Rua Nova. Actualmente as suas casas têm uma estrutura altiva, em tempos mais recuados podiam ter sido diferentes, algumas possuem quintais que se prolongam aos muros que os cercam através da vegetação, provocando nos meses de estio sombras frescas a quem passa. Uma rua histórica, repleta de histórias por recontar.
Outro dia com as viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra interrompidas, a aldeia da Foz não terá a visita da biblioteca ambulante, os aldeões não apreciarão as brochuras que salvaguardam as histórias o viajante não olhará os campos repletos de sobreiros, o gado pastando lentamente no montado. Um dia sem entusiasmo para quem gosta de histórias de conhecer e saber mais, informação que nos cerca.
Vista do núcleo mais antigo de Abrantes, denominada de " Notável Vila de Abrantes" (elevada a cidade a 14 de Junho de 1916). As viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, daqui têm o início e fim diáriamente.
As viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, continuam interrompidas tirando aos leitores da biblioteca ambulante o prazer de virar as folhas de um livro, interpretar o que está escrito. A assistência mecânica continua demorada, não se prevê o desfecho, a aldeia de hoje seria Atalaia, na União de Freguesias de Aldeia do Mato e Souto, no norte do território. No pequeno largo, junto ao mini-mercado, a expectativa irá dar lugar ao desânimo de quem tem como certo o acontecimento.
As fotografias do fim da tarde de ontem e o início da manhã de hoje, isto para dar conhecimento que a biblioteca ambulante continua numa oficina mecânica, a revisão alonga-se até ao final da semana. As viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, estão suspensas, os leitores estão carentes, por pouco tempo ficam sem histórias. Também o viajante da biblioteca se sente como um peixe fora de água, não segura no volante, dirigindo a biblioteca ambulante na direcção das aldeias, não sente os cheiros das páginas onde se desenvolvem aventuras, dramas, fantasias e realidades. Não fala com aqueles, que afastados geograficamente da cidade esperam por novidades, notícias do burgo, de terem um pedaço de tempo desigual.
" Não há poder maior no mundo que o do tempo: tudo sujeita, tudo muda, tudo acaba "
As viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, percorrem um território extenso com setecentos e catorze quilómetros e sessenta e nove metros quadrados. Uma região onde a água se evidencia com as suas nascentes, minas, rios Tejo e Zêzere, as ribeiras, os ribeiros as fontes e outras linhas de água. A biblioteca itinerante quer ser um escoamento de saberes levando de um lugar para o outro as letras, as palavras, as frases, uma bica onde todos os aldeões possam matar a sede!
Um, dois, três, quatro... estes e muitos mais números adicionados à quantidade de automóveis que transitam nos dois sentidos na estrada nacional nº 118, durante o período em que a biblioteca ambulante esteve detida na aldeia da Casa Branca, com as suas histórias nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. Acompanha a margem esquerda do rio Tejo, separando em duas partes o vasto território da acção da biblioteca, desunindo as aldeias de Alvega, Concavada, Pego, Rossio ao Sul do Tejo, a vila do Tramagal e esta onde me encontro.Uma via com destreza para o desenvolvimento ecónomico a sul do rio e mesmo para o país.Também a biblioteca itinerante com ousadia procura obter mais leitores transitando por ela, aproveitando ligações e alternativas, com o propósito de fazer acontecer com os livros.
Início de mais um dia, mais logo as viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra serão efectuadas para além do rio Tejo, na freguesia de Alvega, nas aldeias de Lampreia e Casa Branca. As suas gentes estarão despertas para acolher a biblioteca com as suas histórias? Irão procurar nos livros as narrativas que os estimularão a enfrentar as noites mais longas que se aproximam? Lerão em voz alta nos serões? As conversas vão ser assuntos das histórias lidas? Estas e outras questões surgem sempre ao viajante da biblioteca, reflectindo, nos percursos até ás aldeias.