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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

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Hoje, as histórias levaram-me nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, num virar de página cheguei á aldeia das Bicas. A tarde agradável trouxe á biblioteca ambulante leitores, segurando nas mãos sacos cheios de histórias. Histórias que traziam narrativas dos lugares onde estiveram, das pessoas que as leram, as contaram a outros. Histórias que foram trocadas por outras,  partem com diferentes aventuras, descrições de lugares, de viagens, vão preencher a existência de quem quer conhecar mais ainda, de quem não se cansa de aprender. Vejo-os afastarem-se com os mesmos sacos, completos de letras, ainda os observo a afastarem-se e já tenho saudades, da modéstia, dos relatos, nada sem importância, provoca diálogos entre nós. Estabelece fraternidade com quem se encontra de tempos a tempos passageiramente.

 

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Novamente na estrada rumo á aldeia de S. Facundo, nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. O calor continua, na rua principal da povoação a sombra abriga os mais velhos, os que já não trabalham, apoiados nas bengalas, sentam-se olhando os forasteiros, eu incluído, caminhando distraidamente, lembrando as pessoas que a biblioteca ambulante regressou. Relembrando que as histórias estão lá, aguardam pelos leitores, pelos que não lêem, pelos curiosos, invariavelmente não estão colocadas de maneira ordenada, as mãos que as agarram não dão descanso, assim há momentos frenéticos na procura de um título, de um autor, neste intervalo de pesquisa, descobre-se uma ou outra história bastante divulgada, que nunca se tinha lido, outra há muito tempo decifrada, estabilizam com outras, sinalizando com o olhar, na próxima visita da biblioteca são deles.

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Decididamente a tarde para o viajante das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, não está de feição relativamente ao calor excessivo. Os 31º graus na aldeia da Barrada,  repentinamente declarados pelo astro, demovem qualquer um de visitar a biblioteca ambulante, assim como esmorece o trauseunte das histórias. Lá mais para trás, a meio do itinerário, homens trajando coletes verdes ( não são manifestantes ), equipados com protecções nas pernas, nos braços, mãos, ainda com um "elmo" resguardando a cabeça, empunham com auxílio de uma fita colocada em diagonal no tronco, potentes máquinas de suprimir vegetação rasteira. São roçadoras, que não dão possibilidade á vegetação indefesa, até mesmo as mais espinhosas são cortadas pelas afiadas lâminas. Ao avistá-los fazem-me lembrar guerreiros medievais, só que as guerras são outras, aqui as batalhas nunca acabam, á semelhança da biblioteca ambulante, mais dia, menos dia voltam ao mesmo lugar.

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Sob a expressão do rosto vigilante da carranca, adulterada por uma outra manifestação de arte, penetra-se na Rua Condes de Abrantes, antiga Rua da Boga. A sua carência de largura não impede que os automóveis circulem no seu prolongamento, são escassos os que se atravem. Desconhece-se a origem do seu primeiro topónimo, em 1909 numa sessão de Câmara, sondaram a  sua substituição para Francisco Ferrer, pedagogo e propagandista espanhol, fuzilado por ordem do Rei Afonso XIII. Tal não foi avante, mas em 1927 a 11 de Maio  o seu topónimo foi alterado para o actual. É nesta rua que se suspeita ter sido implantada nos séculos XIV/XV a judiaria de Abrantes, embora os documentos existentes não indicam a sua localização real, vestígios da história da cidade aproximam o local de uma determinada referência urbana, outros noutras, assim é dificil uma conclusão. Com a continuação dos estudos ou qualquer achado imprevisto se poderá saber exactamente saber, continuando a  andar, observo casas altas uma ou outra mais imponente, o acesso aos andares superiores é feito por escadas muito estreitas e íngremes, possuindo espaços interiores minimalistas em comparação com as construções de agora. Os muros também cercam, a rua, suportando os quintais que ostentam limoeiros e sardinheiras, de frente atingo com o olhar a torre sineira da Igreja de S. Vicente, mais à frente termina este pedaço de história, numa travessa que a trava bruscamente.

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Quarenta e cinco anos depois da emancipação do país, a biblioteca ambulante continua a visitar as aldeias, a transportar histórias, actualmente há outros meios de expressar a escrita, são possíveis para quem queira, música e filmes e capacidade para muito mais. Por aqui á semelhança de muitas outras aldeias o progresso estagnou, muitos emigraram, outros migraram para o litoral do país em busca de melhores condições de vida, ficaram os velhos e os remediados. As histórias agora são outras, apesar das d'outrora estarem disponíveis para  ler a primeira vez, e voltar a ler outra vez. Ainda assim nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, a biblioteca na Carreira do Mato conquistou uma leitora, os anos de trabalho já terminaram, mesmo que não seja constantemente, volta devagar á sua terra, viu na biblioteca a oportunidade de continuar a ter informação actualizada a par com as novidades literárias. Como ela outros voltarão possivelmente, neste lugar e nos que continuarão a vir repetidamente, a biblioteca ambulante lá estará para os acolher com as suas histórias.

 

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Ontem adormeci com um livro nas mãos, momentaneamente afastei-me da história, as letras sumiram-se. De repente voltei às primeiras leituras, Júlio Verne, o que me levou nas suas aventuras, Volta ao mundo em 80 dias, O prémio da lotaria, 20 000 léguas submarinas, Cinco semanas em balão, e muitas mais. As noites corriam depressa, sonhando com os personagens, com as máquinas em que se faziam transportar, avançadas para a época da escrita das histórias. Só mesmo um visionário e um grande contador de histórias me influenciou a ler mais. Com ele aprendi a gostar de livros e ler até hoje, vieram outros, novas histórias, até no ofício os livros estão presentes. Acordei com a chuva a bater devagarinho na janela, mais um pouco amanhece, outro dia nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra.

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