Numa livraria perto si
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A chuva voltou e não veio sozinha, trouxe frio e vento, combinação perfeita, juntamente com o Dia Mundial do Livro de um período normal de inverno e uma boa leitura.Na aldeia do Tubaral a união destes elementos tornou o lugar mais deserto, no café do Lola, abrigam-se alguns aldeões da tempestade que se abateu. A cortina de água que se formou é tão densa que impede a visibilidade ao longe. Leitores, só os que estão no estabelecimento folheando o jornal diário CM, e o Jornal de Abrantes que o viajante das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra acabou de colocar nas mesas. Os outros não irão surgir em virtude da desordem climatérica, que atrofiou a manhã. No regresso as bermas de um lado e outro da estrada estão fartas de água correndo velozmente na direcção dos ribeiros, impulsionando as águas destes para outras que correm para o leito agoniado do rio ibérico.
O sol ainda se espreguiçou ao amanhecer mas desanimou perante o véu que cobria o céu, a temperatura fresca à medida que a biblioteca ambulante avançava nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, tornou-se mais abafadiça obrigando o viajante a despir o blusão que apesar de não ter mangas já se tornava incomodativo. No campo em alguns locais, ultimam-se terrenos, plantando e semeando, são grandes áreas de cultivo carinhosamente preparadas por mãos conhecedoras. Debaixo dos sobreiros, ovelhas descansam, os petizes que escaparam ao sacrifício pascal, pulam no meio da erva molhada pelo orvalho, algumas cavidades ainda com água são aproveitadas para matar a sede destes e outros animais mais selvagens que por aqui habitam. Na Foz a moleza é evidente após as festividades, são poucos os que se deixam avistar, só as leitoras habituais com as histórias lidas, as restituem. Contíguas á biblioteca ambulante as hortas enchem o olho a quem passa, couves, faveiras, batatas, e outras em desenvolvimento, umas já se colhem outras perto do verão terão os frutos amadurecidos, a melancia o melão, tomate pepino. São outras histórias, que a terra cria, assim como quem escreve uma, umas longas, outras curtas, ambas agradáveis de assimilar.
...tinha padaria, café, ...
Não é a catedral Notre Dame é um mercado municipal,foi consumido pelas chamas, está devoluto e deteriorado, tem obras de arte e relíquias, tinha legumes, hortaliças, tinha fruta fresca, frutos secos, tinha animais vivos (galinhas, coelhos), ovos, queijos, tinha açougues, peixaria, com oito séculos de história uma referência na civilização europeia e mundial, construído nos princípios do século XX, referência na história local como a primeira grande superfície comercial, tem anualmente 13 milhões de visitantes, tinha abrantinos e não só que diáriamente o frequentavam para adquirir alimentos frescos, cultivados e criados nas hortas limítrofes da cidade e freguesias mais afastadas, criava postos de trabalho a quem expunha os seus produtos para venda, tem mecenas a doar milhões de euros na sua restauração, tem muitos abrantinos preocupados, interessados e ansiosos na sua reabilitação, Emmanuel Macron prevê um prazo de cinco anos para recuperação, demasiados anos para uma decisão. Duas estruturas, dois fins, num o céu é o limite, noutro a superfície, dimensões completamente diferentes, a mesma intenção, as pessoas. Em memória dos que o visitavam com regularidade dos que fizeram dele o seu ofício definitivo, com uma petição efectuada há dois anos, onde maioritariamente se defendeu a sua continuidade por parte dos abrantinos está na altura de vangloriar este edíficio, não sendo um marco do Gótico é um exemplo do empreendorismo na história de Abrantes.
Não há combustível, mas há água com fartura a correr com ímpeto das nuvens que abraçam as viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. A biblioteca ambulante tem meio depósito de gasóleo para gastar a levar histórias ás aldeias. Os dias que se seguem irão dar tréguas ao consumo, derivado dos feriados que ai vêm. Na próxima semana a possibilidade da normalidade voltar é aceitável, o que restará, será utilizado até os postos serem reabastecidos novamente. No Tramagal os leitores abeiram-se da biblioteca, entraram curiosos por novidades, exploraram e levaram histórias. A chuva perdeu-se, a melancolia abateu-se no que sobra da tarde.