Numa livraria perto de si
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A chuva alterou rotinas de quem está de férias, nas praias pela manhã os cafés abarrotam de gente, a leitura dos jornais misturada com o galão as torradas, as bicas o pastel de nata, a pequenada rodeando as mesas pedinchando e apontando para as vitrines dos bolos e gelados, os vários idiomas, é muita vez interrompida por distrações que cercam o leitor demasiado exposto ao turbilhão humano. Os empregados não têm descanso de bandeja no ar rodando a cabeça no sentido do chamamento daqueles que agem como se não tivessem tempo para mais nada. Início de um novo dia de repouso, para trás ficam toalhas, a tralha que se transporta, chapéus de sol, cadeiras, baldes pás e outros objectos necessários ao bem estar de todos eles. Os olhos não se regalam com formas e posições, o nariz não recebe aromas de bronzeadores e os ouvidos não escutam conversas da vida alheia, de línguas adoptadas que poderiam ser evitadas na terra mãe, condições para viajar, ver castelos, visitar museus, conhecer património natural, aldeias, vilas e cidades. Eu aproveito este atrevimento da chuva para escrever um pouco, e como principiei o texto a mencionar os cafés, vou realçar o Café Bilhar, afamado pela denominação " Tonho Paulos ", o nome do primeiro proprietário. Todas as manhãs me encontro com o meu pai para bebermos café, na mesa habitual, nas mesmas cadeiras, período para palestras de futebol, mexericos, observações, encontros com outros frequentadores. Áquela hora são sempre os mesmos exceptuando um dia ou outro ainda assim ciclicos em que surge clientela diversa. Há mais de cinquenta anos a servir os abrantinos, este estabelecimento tem como freguesia gente abastada, menos abastada e remediados, de manhã as bifanas começam a sair, são alguns que sustentam os seus estômagos com a fevra no pão, acompanhada com uma taça de vinho ou cerveja no intervalo matinal, muitos pegam o trabalho cedo e o corpo pede alimento. Outros conseguem emborcar cálices de aguardente, os que atinam com cálices de vinho Porto, segundo eles, faz bem ao coração, também os há que bebem trés, quatro minis, revezando-se no pagamento. Com o avançar do dia, entram em cena pequenos pratos de feijoada, moelas, é o alomoço económico de quem trabalha por perto, mais á tarde apesar de se moverem vagarosamente, os caracóis rápidamente desaparecem dos pires, tornando a voltar outra vez para as gargantas que absorvem sofregadamente imperiais e minis. A noite vem mais calma com os cafés depois de jantar, podendo eventualmente haver quem prolongue a paródia e ainda haja uma mesa ou outra com clientes extasiados de tanta folia á volta das mesmas. Depois há o Miguel, quem entra o que vê é o topo de uma cabeça por trás do balcão, mas acabado de se sentar, tem já o seu café servido e pronto a beber. Os seus olhos são como o do falcão, vigilância no que se passa dentro do espaço e muita atenção a quem entra, conhece os apetites e paladares de cada cliente, se o café é curto ou cheio, com chávena escaldada ou não, tal e qual um bibliotecário na sala de leitura sugerindo uma história, conhecendo perfeitamente o perfil do leitor. De tabuleiro equilibrado na mão, anda sempre apressado quase a correr, recolhendo loiça usada deixada nas mesas, levando depois as solicitações dos clientes. Durante alguns anos duas mesas de bilhar foram objecto de grandes disputas, em volta delas muitos apreciaram a mestria de quem sabia pegar no taco, como profissionais empurravam a bola de jogo a embater deliciosamente nas tabelas de modo a colocá-la no sítio certo para continuar a jogada, ainda presenciei alguns destes encontros. Actualmente os encontros são de amigos de pais e filhos, de alguns que não têm mais para onde ir, e ali estão permanentememte. Se tiverem curiosidade entrem e conheçam esta casa popular.