A tarde esmorece na aldeia do Vale das Mós, ao mesmo tempo que uma aragem fria toma conta do viajante das viagens e andanças. Para se defender, recorre ao café quente depositado num termo, ao entornar a bebida ainda fumegante, é surpreendido, o líquido queima-lhe a língua, pensa raios e coriscos, mas tudo passa quando se sente confortado com a temperatura do seu corpo estabelizada. Mulheres já com alguma idade, deslocam-se em grupos de duas, trés, dirigem-se para o Centro de Dia, onde funciona um infantário, os pais não podendo por motivos profissionais ir ao encontro dos filhos no encerramento da escola, são substituídos pelas avós. À minha frente o José estica o seu braço para alcançar as histórias, não são impossíveis de agarrar, estão ali mesmo nas estantes, diante dos olhos de quem as queira ver, quietas. Só eu sei quanto elas desejam que o José e outros leitores as convoquem para suas casas, Só eu vejo a inquietação, não param, os títulos, as capas ilustradas, a darem nas vistas para que sejam elas as seguintes a serem escolhidas. Só eu sei quanto as suas letras, as suas palavras e frases, enclausuradas, emagadas no miolo das histórias, ambicionam que as leiam. Só eu sei a satisfação, o prazer, de quem leva histórias, só eu sei o reconhecimento que lhes devo, por serem o que são!
O sol deu uma folga à chuva nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, nas charnecas, terras de ninguém, de liberdade, onde cabem todas histórias, as urzes são as únicas que ainda resistem coloridas. Com os dias cada vez mais pequenos, a biblioteca ambulante e as histórias prolongam a continuidade dos mesmos com letras e palavras, que saltam à vista daqueles que descansam após um dia de trabalho, acalorando sob o fogo intenso das lareiras as suas estaturas. No Casal da Bica os cavalos tiram vantagem da erva fresca e macia para encherem as panças antes de voltarem às bocas para serem trituradas. Nas imediações da aldeia do Brunheirinho a vida acontece, sacas de azeitona acumulam-se, enquanto mulheres não param de apanhar as restantes ainda penduradas nos ramos das oliveiras. Os velhos fazem de pastores, olhando para as suas parcas ovelhas pastando ao sol, aproveitando o mesmo astro, roupas de vestir, de cama, toalhas, secam suspensas por molas numa corda bem esticada. A biblioteca ambulante ambulante junto da fonte compõe o resto.
Num futuro próximo, algo muito estranho começa a suceder. Quando as mulheres adormecem, dos seus corpos emerge uma espécie de casulo que as isola do mundo exterior. Enquanto dormem, são transportadas para um lugar onde não existe violência e onde tudo é harmonioso. Se, durante esse processo, forem incomodadas, acordadas ou se o invólucro for tocado, elas tornam-se extremamente violentas. Mas há uma mulher, Evie, que é imune a esse fenómeno. Tratar-se-á de uma singularidade médica que deve ser estudada ou de um demónio que deve ser exterminado? Os homens, abandonados aos seus instintos mais primários e divididos em fações guerreiras, ou tentam destruí-la ou salvá-la.
Nos últimos três mil anos, a China passou pelo menos onze séculos em guerra. O Império Romano esteve em combate no mínimo durante metade da sua existência. Desde o ano da sua independência, em 1776, os Estados Unidos envolveram-se em diversos conflitos armados num total de mais de cem anos. Se o sonho de paz tem sido universal ao longo da história da humanidade, por que razão é tão difícil de alcançar?
Neste livro surpreendente, Jonathan Holslag propõe-nos uma nova história do mundo, desde a Idade do Ferro até ao presente, centrada nos conflitos entre impérios, nações e povos, e no impacto da diplomacia e do cosmopolitismo. Uma visão global de três mil anos de história, o livro descreve e explica os sucessivos períodos de guerra e de paz, desde o Antigo Egito até à Dinastia Han, da Pax Romana ao surgimento do Islão, das primeiras conferências de paz à criação das Nações Unidas.
Esta aventura histórica épica permite a Holslag estabelecer padrões entre diferentes eras e regiões, denunciar mitos generalizados sobre a guerra e discorrer sobre questões essenciais da natureza da política global.
É mesmo verdade que o comércio fomenta a paz? Como é que as alterações climáticas afetam a estabilidade das sociedades? Será que a participação democrática é um travão à agressão? É a guerra um pecado universal do poder?
Num momento de tensões geopolíticas crescentes, Guerra e Paz - Uma História Política do Mundo mostra como é que chegámos aonde estamos atualmente - e porque é que não devemos dar por certa a paz.
Visto da ponte, lá em baixo na margem sul do rio, os mourões estão engalanados, muitas bandeiras, bancadas com cadeiras, aprumadas lateralmente ao hipódromo, no recinto cavalos e cavaleiros treinam , transpondo obstáculos. É o 1º Concurso Hípico da Cidade de Abrantes, III Concurso Nacional do RAME (Regimento de Apoio Militar de Emergência), que se realiza no fim de semana que se aproxima. Nas histórias fantásticas, dragões, humanos e outras personagens imaginadas por quem escreve, por quem lê, convivem, partilham emoções. Onde os monstros fictícios libertam fumo após terem lançado chamas, assim estão as chaminés erguidas nos telhados, alguns cobertos por uma camada de musgo, na passagem da biblioteca ambulante por povoações e lugares, ao encontro do destino nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terrra. O sol não tem vergonha, o frio continua descarado no Vale do Açôr, o cheiro a lenha queimada inunda a povoação, as pessoas não temem a temperatura baixa, andam na rua, trabalham. Um pedreiro com a sua pequena pá, aplana o cimento na parede, com a sua destreza ficará como nova. As histórias acreditam que o Gregório surja a qualquer momento, entre as que compartilham o fundo bibliográfico da biblioteca ambulante, uma ou duas irão certamente com o leitor, privarão com ele nas nas próximas semanas.
Um corpo pendurado dos pilares da Ponte de D. Luís, no Porto, desafiando uma cidade em transformação, cosmopolita e cheia de turistas. O cadáver de uma mulher abandonado nas colinas do Douro - e a evocação de uma série de crimes no submundo da noite portuense. O que parecem duas ocorrências independentes acabam por revelar ligações que não surpreendem o inspetor Jaime Ramos - que, em simultâneo, enfrenta o seu passado de militante comunista, um inquérito interno à sua atuação na polícia, o estranho pedido de um velho amigo e a busca por um personagem desaparecido, que o levará das ruas do Porto ao Minho e ao Douro e, finalmente, a Pequim. Um romance denso e crepuscular em que a figura de Jaime Ramos, agora no seu nono livro, se interroga sobre o sentido de ser português num país dominado por elites cúmplices, endogamias e poderes ocultos.
Em fevereiro do ano 2000, Richard Zimler desloca-se à Austrália para participar no Encontro de Escritores de Perth. Aí, conhece Sana, uma bailarina brasileira que lhe diz que o seu livro O Último Cabalista de Lisboa influenciou profundamente a sua vida. Um dia depois, o inesperado acontece: a mulher suicida-se, atirando-se da janela do hotel em que ambos estão hospedados.
Zimler torna-se então personagem do seu romance e, simultaneamente, investigador e narrador. As suas buscas levá-lo-ão a Paris, onde conhece Helena, amiga de infância de Sana. Porém, à medida que vai desenrolando o fio da vida de ambas – que começa em Haifa, numa época em que a convivência pacífica entre uma palestiniana e uma judia era ainda possível –, vê-se envolvido numa teia de ilusões, crueldade e vingança que culminará no 11 de Setembro de 2001.
Um livro surpreendente e corajoso que é, sem dúvida, um ponto alto na obra de Richard Zimler.