O sol não para de jogar às escondidas, aparece lustroso dando ares de não querer perder o estio, de seguida não se consegue encontrar, relembrando afinal que a sua capacidade de libertar calor não se destaca nesta altura do ano. Na aldeia da Concavada, duas máquinas paradas, uma seguida da outra, maneiras diferentes de alcançar metas viajando. Errantes na acepção da palavra, desiguais nos destinos, estradistas por excelência, não se acanham aos desafios que se atravessam nos seus itinerários. Estradas boas, estradas menos boas, estradas más, não se cansam até atingir os limites propostos. Uma leva-nos ao desconhecido, sem fronteiras, conhecer novas terras, gentes, sabores, usos e costumes. A outra, traz-nos histórias diariamente ao território das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, há os que conseguem ir a lugares distantes, mas também há os que, sem passar para fora das suas aldeias, alcancem grandes distâncias, conheçam os mesmos lugares, as populações, as tradições as gastronomias. Para isso têm sempre a biblioteca ambulante nas suas aldeias, manhãs e tardes satisfazendo aldeões por meio da leitura.
Na manhã cinzenta, o vento sem vergonha empurra os guardas-chuvas, destapando quem se abriga dos pingos acelarados pela tirania da tempestade. As viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, livram-se da estrada, dos quilómetros percorridos, ganham estímulo para outras viagens. São as mesmas, sempre distintas, assim como os panoramas se alteram, os cursos dos ribeiros voltam a ter sorrisos, a biblioteca ambulante recruta histórias novas para leitores sempre presentes, com vontade de conhecer novidades, o surgimento de novas figuras não deixam de acontecer. Ao contrário de outros, leitores que se esconderam para sempre, quis o destino que assim fosse, ficam as saudades e memórias. De regresso á janela do Convento de S. Domingos ou Casa Amarela, do abrigo das memórias da comunidade, já depois do meio-dia, vejo que a chuva se instalou definitivamente, nas aldeias certamente dão Graças a Deus por esta abundância. Voltam a ter confiança outra vez, também quero continuar a ter!
Mais uma vez nos finalistas na categoria dos livros o Blog, Histórias á beira rio,viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, um combate diário na implementação da leitura entre os limites contrapostos do interior. Mas não é só isso, uma escrita de quem está sózinho, de quem continua a aprender, apesar de ter vivenciado os lugares e aldeias no passado, são as memórias a acontecer, rebeldes, no momento. Uma batalha para quem escreve perante recordações que embatem diariamente nuns mais que outros violentamente, no viajante das viagens e andanças. Acontecimentos aprisionados na posteridade que comprovo nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. Um território que foi farto de tudo o que a terra aqui pode dar, uma área que foi transformada industrialmente, que foi criativa, mas que a sucessão de acontecimentos nos últimos anos matou. Não é fácil ver aldeias vazias de gente, só os restos, secos, maduros de mais, se avistam, são duros, não prestam, mais tarde a terra se encarregará deles. Uma escrita de observação, de defesa, mas também de alguém que passou a ter habilidade a expressar o que lhe vai na consciência. Histórias á beira rio, aos poucos conquista o seu espaço, ganha asas, embora essas extensões começem a fazer sombra, não compreendo o sentimento de cobiça nos meios pequenos, sobressai ainda acima de tudo, mesmo que a vontade seja a qualidade de vida das pessoas através das histórias. Histórias á beira rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, nas vossas mãos!