Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

IMG_20200128_163710.jpg

 

Acordei, como uma folha esquecida e soprada violentamente pelo vento, saí da cama, quase perdia o compromisso que tinha para com este dia. Mais logo nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, Vale Zebrinho e Arreciadas acolherão nos seus regaços as histórias e a biblioteca ambulante. No vale só as árvores de grande porte estão despidas, as que estão no planalto da charneca mantêm-se intactas nos seus trajes, nestas últimas a seus pés a terra é agreste e cheia de pedras roliças. As outras pisam um tapete verde que se prolonga pelo centro do vale, à excepção da ribeira e outros traços de água que o rasgam. As histórias avançam perfuram o vale sem o estragar, dão-lhe mais alegria, mais harmonia. Nos limites da aldeia, um rebanho vigiado por uma pastora, auxiliada por dois cães, mastigam a erva macia, um homem empurra uma vassoura, levando de arrasto folhas teimosas que se demoram a despegar dos ramos que as prendem. Os seu movimentos são como o passar do tempo no lugar, vagarosos, mas habituados ao ofício. O tempo aqui não importa, não há interrupções para ler histórias, para trabalhar a terra, foi assim no passado, é no presente e continuará no futuro. Um quotidiano demasiadamente calmo, não fosse a biblioteca itinerante interromper esta solidez, despertando os locais com as histórias.

 

Wook.pt - As aves não têm céu

 

Sinopse

Um homem vagueia pelas noites insones, revisitando o passado e a culpa que lhe vai consumindo os dias. A mulher trocou-o por outro e levou consigo a sua única filha, ainda pequena. Na semana de férias em que finalmente pode estar com ela, sofrem um acidente de viação que resulta na morte da filha.
A culpa e o passado cruzam-se neste romance feito de gente que vive no escuro, como o taxista que várias vezes apanha este pai e o transporta pela cidade silenciosa, e os dois companheiros com quem desde a morte da filha partilha o espaço.

Vencedor do Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís 2015, Ricardo Fonseca Mota regressa à ficção com As aves não têm céu, um romance lírico que vem dar voz às sombras que se escondem nos recantos mais obscuros da alma humana.

Porto Editora, Janeiro de 2020

IMG_20200127_091955.jpg

 

Inopinadamente as viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra ficaram represadas no primeiro dia da semana. As pastilhas que auxiliam os travões, agarrando os discos para abrandar ou parar as rotações das rodas, estão danificadas, a sua substituição é inevitável. São muitas as viagens percorridas pela biblioteca ambulante, são muitas as histórias que desafiam a motricidade, nem todas são desejadas nas aldeias onde se demoram, continuam nas viagens seguintes, onde atingem lugares onde são escolhidas, e assim por diante, saem umas, entram outras, a biblioteca ambulante nunca está despida de histórias. Contudo são demasiadas travagens, para se tentar alcançar o maior número de leitores que se deseja, quem se desgasta são as pessoas, as pastilhas e todo o mecanismo de travagem. Ao contrário, arriscando na continuação dos quilómetros, até fazer ainda mais, atingindo outros limites, acelarando sem parar, procurando mais leitores, levar a literatura e tudo o que gera aos confins do território abraçado pelas viagens e andanças. A biblioteca ambulante tem de soltar os seus cavalos, deixa-los galopar, alcançar as planícies, galgando charnecas, trepar aos lugares mais elevados, atingir os mais longínquos, saciar a sede nos rios e seus afluentes, que nascem e riscam, sarando  folhas em branco, escrevendo letras pelas aldeias da minha terra.

Wook.pt - Uma Cana de Pesca para o Meu Avô

 

Sinopse

Recordações de infância, as alegrias simples do amor e da amizade, a terra natal e os seus lugares familiares, mas também os dramas da rua ou as tragédias vividas pela China, são estes os temas destes seis contos escolhidos pelo autor.

Com um imenso talento, Gao Xingjian brinca com estas imagens e com a sua escrita, leva-nos, como se nada fosse, a entrar nos seus sonhos mais íntimos - quer sejam os do rapazinho que se tronou adulto, de um jovem recém-casado perdido de amor ou de um nadador em risco de vida... Sorrisos e lágrimas atravessam esta leitura, que nos deixa o belo e suave sabor da emoção.

Dom Quixote, Janeiro de 2019

IMG_20200123_112416_876.jpg

 

Viagens e andanças para lá, viagens e andanças para cá, distâncias longas e curtas, asfalto perfeito, asfalto imperfeito, mais pessoas numas aldeias, menos pessoas noutras aldeias. As histórias não são só viagens, há percurssos anteriores, mecanismos mentais ou intelectuais processados muito antes até chegarem às mãos dos leitores.  O destapar páginas amarelecidas de histórias que ao longo do tempo pouca luz viram, decifrar as letras, as palavras onde algumas aos meus olhos são pedras preciosas, comparadas com as das histórias actuais. Um ofício que não se consegue perceber ou notar por aqueles que lêem, é de muita responsabilidade trazer histórias antigas e actuais às viagens, dar-lhes uma identidade, ser cuidador de narrativas escritas por autores literários ou outros. Não é um trabalho, é uma paixão que não tem fim.

22 Jan, 2020

Texto da treta 9

Paredes enroupadas de palavras, de independência, lugares desocupados, passagens interruptamente exploradas, perseguindo o que não existe. Pessoas que não rompem, não querem saber, não querem recolher conhecimento, gente demasiadamente apreensiva com as maneiras de perdurar dos outros. Sorrisos mentirosos, pancadas que denotam amizades, deslealdades a mais para se compreender. São poucos dias, assustadores, demoram a atravessar, quero abalar, quero estar onde não sou infeliz. Pergunto às histórias o que faço eu aqui? Tu pertences a este lugar, sempre permaneceste aqui, responderam. Voltei a insistir, percebo que a partir de agora o meu espaço não é este. Aprendi a voar com as histórias, aprendi a estar com os simplórios, trago comigo caracteres semelhantes, também sou um deles por transmissão dos meus pais. Continuo a desejar as histórias, sem elas sou ninguém, não quero isso, não quero parar, quero desandar daqui para fora.  Quero progredir, fazer chegar, bater nas portas, entregar, dar, motivar aos que nunca estão presentes. Quero voar!

 

21 Jan, 2020

Texto da treta 8

Saí apressado, preocupado a tentar não perder o que resta do texto memorizado, e que tinha escrito, mas estranhamente desapareceu quando o publicava. Por outras palavras e algumas que ainda por aqui ficaram, principiava ao deitar, aí o assunto é dormir, fantansiar, às vezes penar, render-me às ilusões. Últimamente antes de embalar, sou atropelado por letras, leio para mim o que escreverei, procuro  palavras. São caminhos nos quais as frases se desenvolverão, nem todos serão percorridos, muitos não se completarão.  Desperto, ideias diferentes surgem, ouço a chuva a cair de mansinho, bate devagarinho, invoca a minha presença para ajustar a história, uma narrativa com odores a terra molhada. O vento assobiando provoca a letargia, uma volta, duas voltas, lembro-me de uma anotação no bloco de bolso, está lá em cima, mas está demasiado frio para subir as escadas e ler um rabisco. Ao som de portões a bater, objectos a ser arrastados, pondero outras opiniões, termino tudo isto adormeçendo, embora haja noites em que o estado de adormecimento é sem interrupções. As sombras são histórias acabadas.

 

 

20 Jan, 2020

Texto da treta 7

IMG_20200120_144507_130.jpg

 

Nas últimas horas, o vento não se cansa de uivar na região onde se estendem as viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. O sopro é de tal maneira intenso que aparenta estar sedento por alguma coisa, tal e qual os lobos quando esfomeados exploram florestas e charnecas tentando alcançar as suas presas. O seu temperamento violento revolta os cabelos de quem anda sem a cabeça abrigada na selva urbana escapando às máquinas motorizadas, fintando os alcaiotes. Arranca a roupa presa no estendal, despe a nossa vaidade. Um pesadelo para aqueles que enfrentam o alento de tão poderoso elemento, não há paralelo com outro sentimento. Só o amor tem tal intensidade, leva tudo à frente quando corre bem e quando corre mal. As histórias, também as levam o vento, de terra em terra, aos homens que têm raízes, que querem ler e aprender. Usam as palavras sem ofender, muitas vêm de outros continentes, escritas por gente ausente, por gente inteligente. O importante é que a cada instante a leitura se agigante, seja comentada, falada e bem tratada. Muitos só conhecem a enxada, escrevem com ela na terra, regos e pequenas covas, berços de sementes, camas de plantas. Nestes sulcos e pequenas valas crescerão hortaliças, vagens cereais e outras verduras. Sem saber ler o homem não deixa de viver, mas quer continuar a compreender, quer continuar a receber as histórias.

Wook.pt - Baltasar, o Grande

Sinopse

O Baltasar era o MELHOR urso violinista do mundo. Chamavam-lhe BALTASAR, O GRANDE! Um dia, é libertado do circo e inicia uma longa viagem. Diz adeus aos velhos amigos, visita novos lugares e faz novos amigos também. Mas a viagem é longa e os dias estão cada vez mais frios… Conseguirá o Baltasar encontrar o caminho até casa?

Orfeu Negro, Abril de 2016

Wook.pt - Troca-Tintas

Sinopse

Era uma vez dois amigos, um cão cor-de-laranja, um papagaio vermelho e uma árvore... branca? Não pode ser! Vamos começar de novo.

Era uma vez uma nuvem verde... e carregada de fruta? Este livro não está bom! Ou podem as nuvens e as árvores trocar de lugar, e o ilustrador colorir o mundo às avessas?

Troca-Tintas convida-nos a desarrumar as ideias e a pintar a realidade de várias cores e tons!

Uma história surreal, de delicada geometria poética e um humor virado de pernas para o ar.

Orfeu Negro, Novembro de 2019