Os seus movimentos são como o passar do tempo
Acordei, como uma folha esquecida e soprada violentamente pelo vento, saí da cama, quase perdia o compromisso que tinha para com este dia. Mais logo nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, Vale Zebrinho e Arreciadas acolherão nos seus regaços as histórias e a biblioteca ambulante. No vale só as árvores de grande porte estão despidas, as que estão no planalto da charneca mantêm-se intactas nos seus trajes, nestas últimas a seus pés a terra é agreste e cheia de pedras roliças. As outras pisam um tapete verde que se prolonga pelo centro do vale, à excepção da ribeira e outros traços de água que o rasgam. As histórias avançam perfuram o vale sem o estragar, dão-lhe mais alegria, mais harmonia. Nos limites da aldeia, um rebanho vigiado por uma pastora, auxiliada por dois cães, mastigam a erva macia, um homem empurra uma vassoura, levando de arrasto folhas teimosas que se demoram a despegar dos ramos que as prendem. Os seu movimentos são como o passar do tempo no lugar, vagarosos, mas habituados ao ofício. O tempo aqui não importa, não há interrupções para ler histórias, para trabalhar a terra, foi assim no passado, é no presente e continuará no futuro. Um quotidiano demasiadamente calmo, não fosse a biblioteca itinerante interromper esta solidez, despertando os locais com as histórias.