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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster


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As pontes e acessos vigiam o regresso à estrada das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra.Quando a biblioteca ambulante e as suas histórias ultrapassam o limite do tempo combinado, eles ficam impacientes, desejam histórias novas, notícias actualizadas, quanto mais não seja, estarem presentes no espaço onde o cheiro a visão e o tacto lhes transmitem vontades. A leitura das histórias transfere tudo isso, agora que as festas terminaram, nada melhor que recomeçar as histórias, onde os marcadores foram colocados, identificando a página onde a leitura foi interrompida, iniciar histórias novas, conhecer outros contadores. Também está na perspectiva da biblioteca ambulante prender mais leitores, quantos mais houver, mais histórias irão viajar, grande quantidade de palavras novas saltarão à vista de quem lê. Uma diversidade de determinações irá apossar-se das gentes das aldeias, surgirão peugadas para novas oportunidades, acima de tudo, esperança para eles e para o viajante das viagens e andanças.

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Finalmente o sol está nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, os rostos sorridentes manifestados nas pessoas logo de manhã trouxeram motivação para outro dia cheio de histórias. No sentido contrário ao do rio Tejo, numa curta boleia da A23, a biblioteca ambulante sai rumando à aldeia da Concavada sem acontecer coisa nenhuma, estacionou na aldeia da Ribeira do Fernando. O José sentado numa mesa do café do qual é proprietário, ergueu-se subitamente quando o viajante das viagens e andanças entrou, foi certo no seu passo à história que esperava ser devolvida, no dia em que a biblioteca voltaria à aldeia. A porta grande abriu-se para permitir o acesso deste leitor, não demorou a encontrar a história que o seduziu, durante este mês voltará outra vez a ter a possibilidade de obter mais histórias. No Monte Galego as chaminés das casas libertam os primeiros odores de lenha a ser reduzida a cinza nas lareiras, depois de um dia acolhedor, onde o campo cobiça a caminhar nas planícies verdejantes. Em Alvega a temperatura simpática ausentou-se, apressada e sem avisar, a pedir uma bebida quente. É isso que o viajante das viagens e andanças faz, bebendo um chá preto Orange Pekoe (folha solta) da Gorreana, oriundo da plantação mais antiga da Europa, na ilha de S. Miguel nos Açores. A história que o acompanha nestes últimos dias continua ainda com mais sabor e ardor.

 

 

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Na cidade as pessoas caminham ao mesmo tempo que resmungam por causa do frio, de cachecóis abraçados ao pescoço, agasalhos compridos e luvas nas mãos, muito protegidas ainda querem mais. Na aldeia da Foz, a primeira dos anos vinte, nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, a tarde não consegue travar a noite, no café as taças de vinho nunca estão vazias. As gargantas não estão saciadas das festas recentes, não há ressaca, os festejos continuam. A biblioteca ambulante esteve sempre rodeada por aldeões, a curiosidade aproximou-os, só na próxima semana iniciam novamente o trabalho. Entre cigarros lá foram dialogando com o viajante das viagens e andanças, que procurava palavras para iniciar o primeiro texto do ano, desabituou-se de redigir palavras, caracteres e sinais gráficos. As histórias entorpecidas tiveram destino na aldeia, também elas a necessitar de estímulo. Um homem, de grandes barbas na aldeia da Água Travessa, bate com a sua mão no vidro da biblioteca ambulante, sem o vidro da porta como obstáculo, questiona o viajante das viagens - Que carro é este? - Uma biblioteca ambulante! Diz o viajante das viagens e andanças! Admirado, agradeceu e lá foi segurando um grande pau, que o auxilia na caminhada. 

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