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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

O relógio da torre sineira da igreja da Aldeia do Mato toca quatro vezes, o sol está quente, lá mais em baixo a água do rio está apelativa. Que bem sabia, um mergulho, libertar as poeiras do inverno que ainda não se foi embora, mas a primavera é teimosa e insiste na antecipação. Só nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, é possível encontrar os diversos estados da meteorologia. Os campos que acompanharam a viagem da biblioteca ambulante até esta aldeia, estão cheios de flores silvestres, cores amarelas, brancas, lilases, enchem de orgulho os nativos destes lugares, deslumbram o viajante das viagens e andanças, dão ânimo às histórias. As hortas estão limpas das plantas infestantes, canteirtos bem estruturados, e nivelados, aguardam pelas sementeiras e plantações. Após o estacionamento da biblioteca ambulante, a água fresca da fonte saciou a sede, a outra fonte a que traz as histórias, quer saciar a falta de leitura destes aldeões, é por isto que não deixa de estar presente na aldeia. A serenidade do rio, mantém as casas desocupadas no lugar do Bairro Cimeiro, sentados nos degraus dos seus lares os velhos olham o rio, cá de cima mais parece um grande lago, mas é só a grande parede do Castelo do Bode que o barra. Termino na aldeia da Carreira do Mato, um novo e pequeno leitor, questionou o viajante das viagens e andanças. - Já leste estes livros todos?

O relógio da torre sineira da igreja da Aldeia do Mato toca quatro vezes, o sol está quente, lá mais em baixo a água do rio está apelativa. Que bem sabia, um mergulho, libertar as poeiras do inverno que ainda não se foi embora, mas a primavera é teimosa e insiste na antecipação. Só nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, é possível encontrar os diversos estados da meteorologia. Os campos que acompanharam a viagem da biblioteca ambulante até esta aldeia, estão cheios de flores silvestres, cores amarelas, brancas, lilases, enchem de orgulho os nativos destes lugares, deslumbram o viajante das viagens e andanças, dão ânimo às histórias. As hortas estão limpas das plantas infestantes, canteirtos bem estruturados, e nivelados, aguardam pelas sementeiras e plantações. Após o estacionamento da biblioteca ambulante, a água fresca da fonte saciou a sede, a outra fonte a que traz as histórias, quer saciar a falta de leitura destes aldeões, é por isto que não deixa de estar presente na aldeia. A serenidade do rio, mantém as casas desocupadas no lugar do Bairro Cimeiro, sentados nos degraus dos seus lares os velhos olham o rio, cá de cima mais parece um grande lago, mas é só a grande parede do Castelo do Bode que o barra. Termino na aldeia da Carreira do Mato, um novo e pequeno leitor, questionou o viajante das viagens e andanças. - Já leste estes livros todos?

Acordei com menos cabelo o que mais desejava, o primeiro assunto que me lembrei, foi do texto que agora escrevo, «Acordas e tudo o mais que desejavas realizou-se: conta-nos o teu dia». Para além da intromissão na vida alheia, tenho que escrever um texto sobre o meu dia. Escreverei verdades ou escreverei como se de verdades conversasse, quem ler o texto o que pensará da pequena história do meu dia? Vou escrever que o meu dia foi passado entre amigos, almoçamos num bom restaurante, comida boa, vinho excelente e de preço elevado. Só não coloco fotos, dos amigos, da comida e do vinho, porque o texto é sem fotos. Não aconteceu nada do que escrevi, não passei o dia com amigos, almocei na minha casa e bebi água, tenho de conduzir a biblioteca ambulante, segurança acima de tudo. Sem conscientizar o que escrevi, revelei um pouco do meu dia, com as histórias, minhas confidentes, amigas. A intimidade entre mim e elas está presente todos os dias, muita confiança, ao ponto de sermos cúmplices, nas inúmeras viagens já realizadas. Um dia de condução, por estradas largas, por estradas estreitas, distâncias longas, tantas vezes percorridas noutros dias, a indiferença tem alturas que se quer sobrepor. Mas não é bem assim, apesar da repetição dos percursos, os momentos são sempre diferentes, com os panoramas a serem alterados, pelo homem, pela natureza, por mim, olho para eles sempre de maneira diversa quando me aproximo. Um dia em que sou um intruso, ou um amigo, nas aldeias que me acolhem por breves períodos, um dia em que estão todos, ou não está nenhum. Um dia de muito frio,   ou calor, um dia cheio de amor pelo que realizo. Um dia de tristeza pelo que podia realizar e não realizei,um dia que queria ter o que não me querem dar. Um dia sem perder a confiança no futuro, um dia em que as histórias continuam a fazer parte da minha história.

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Está calor na aldeia dos Casais de Revelhos, onde a biblioteca ambulante permanece nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. Glu...Glu...Glu...é o som mais ouvido no espaço da antiga escola, proveniente de vários perus que por aqui deambulam, esgravatando a terra, ansiosos por encontrar alguma suculenta minhoca ou outro alimento que os faça regozijar. Leitores é coisa rara por aqui, habitualmente só há um apaixonado pela leitura, ainda não surgiu, mas ainda há muito tempo para que o mesmo apareça com as histórias para devolver. Os pássaros também marcam presença, com o seu chilrear permanente, são sons rurais, das aldeias, são histórias a acontecer. Uma vez por outra, espaçadamente, um galo canta, argumenta fora de horas, ou talvez não, convence os aldeões para se dirigirem à biblioteca ambulante que os aguarda com histórias de encantar. Os cães ladram em uníssono, são latidos de tristeza, de aprisionamento, estão nos quintais, agrilhoados, por correntes com argolas intercaladas, ligadas umas às outras. Guardam as moradias, as hortas, os espaços privados, têm falta de liberdade, de vaguear nas ruas desertas, correr sem destino, de rebolarem nas ervas frescas e macias. Sentem a ausência dos donos, da inexistência de carinho, têm saudades da alegria da aldeia.

 

Wook.pt - A Guerra Civil (Farsália)

SInopse

A Guerra Civil (Farsália) foi escrito pelo jovem Lucano entre o ano 59 d. C. e março de 65, quando, aos vinte e cinco anos, foi forçado a abrir as veias por ordem do imperador Nero, que lhe invejava o talento poético.

«O assunto do poema é a guerra civil travada cem anos antes de Lucano, entre César e Pompeio, na sequência do falhanço do primeiro triunvirato. O arco cronológico do poema começa em 49 a. C., com a travessia do Rubicão e o início da guerra, e termina com César cercado pelos Egípcios em Alexandria nos finais de 48, inícios de 47.»

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O inverno, tirou o disfarce de verão com que se apresentou nesta quadra carnavalesca, voltámos aos dias normais nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. Apesar do sol brilhar, a sua energia é ofuscada pelo sopro do vento, onde tem momentos de alguma tormenta. Na aldeia do Tubaral, a laranjeira que se destaca no largo, tem as suas flores prontas a desvendar o quanto de beleza possuem, a soltarem o perfume que embriaga as histórias. A essência torna-as atrevidas para com quem se aproxima da biblioteca ambulante, facilmente abrem as suas folhas, expõem as letras sem vergonha. Querem ir com eles, querem estar o tempo que for preciso nas suas casas, muitas já se esqueceram donde vieram, quantas vezes a biblioteca ambulante visita as aldeias, e elas não voltam. Estão esquecidas, num recanto, no quarto, na sala, de uma qualquer casa de um leitor que não se recorda de a ter lido. Talvez ainda não a tenha folheado uma única vez, não cheirou as folhas, de um odor diferente das flores da laranjeira, mas tão perfumadas como estas. Absorver o aroma da tinta, do papel, ficamos a saber a narrativa que está escrita, a curiosidade aumenta pelas outras que ainda faltam ler, após lerem uma, duas, histórias, a biblioteca ambulante não deixa de voltar, trazendo outras histórias, o aumento do desejo descontrolado por mais leitura não pára. Afinal quem está inebriado pela substância libertada pelas flores da laranjeira é o viajante das viagens e andaças, já escreve sobre cobiças que não acontecem, são histórias de fantasia, são histórias que não querem terminar.

Wook.pt - RodopioSinopse

O amor acontece em todo o lado, sobretudo na vida dos protagonistas destas histórias, homens e mulheres normais a quem sucedem encontros extraordinários. Há paixões que nascem em bancos de jardim e logo são inscritas no tronco de uma árvore, à mesa de estabelecimentos comerciais, na praia, a bordo de um avião ou mesmo no trânsito. Algumas são eternas, e delas nascem casamentos e outras arrelias; outras estão condenadas como as árvores do parque onde foram inscritos os nomes dos namorados...

Com o seu habitual sentido de humor, Mário Zambujal transforma os acontecimentos do dia a dia numa paródia constante. Neste Rodopio encontramos um apaixonante e muito divertido conjunto de personagens pronto para nos fazer soltar um sorriso maroto ou uma valente gargalhada.

Clube do Autor, Novembro de 2019

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Os últimos dias têm estado fantásticos, mas não é imaginação minha, ao contrário do significado da palavra que pode induzir em erro, os dias cheios de sol modificam as pessoas, tenho-me cruzado com rostos sorridentes, usando roupas frescas, os sorvetes e gelados não param de ser sorvidos por bocas desejosas do verão. Tudo isto não passa de uma história ficcional da meteorologia que as viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, transportam na biblioteca ambulante. Amanhã, após o final da leitura, reflectindo o que acábamos de ler, olhando o mundo lá fora, possivelmente a visão cinzenta da manhã traz-nos à realidade, continuamos ainda na primeira época da longa história, não muito distante da que virá a seguir. Na estrada e nas aldeias as histórias da biblioteca ambulante são desapegadas destas narrativas instáveis, livres querem aliciar as pessoas, os leitores, uns a inaugurar, a instruirem-se na leitura, outros a continuar, evitar que percam o entusiamo, mantendo-os actualizados.

 

 

Há algum tempo que a folha está em branco, quem não sabe, e vê um tipo sentado a olhar para uma pequena máquina pousada em cima de uma mesa, quieto, possivelmente distante do lugar onde está. À sua volta circulam pessoas, entram, saem, o ruído que se faz ouvir não o perturba, continua estáctico tal e qual uma estátua humana, daquelas que se vêm nos largos e praças, umas até se assemelham a esculturas de bronze, é impressionante o rigor da caracterização destes artistas que estão longas horas sem se mexerem. Assim continua o indivíduo defronte do seu computador pessoal, naturalmente, sem artifícios de maquilhagem, murmurando algo imperceptível, - o google está errado - Ao redor quem ouviu as palavras pronunciadas entre dentes, ficou com o rosto estampado num grande ponto de interrogação, ao mesmo tempo admirado pela frase proferida. É que ao pesquisar no motor de busca do google a frase – o google está errado – surgem umas quantas opções de pesquisa de erros no google. O sol tinha superado o seu ponto mais alto e o sujeito mantinha-se no mesmo lugar com a cara chapada no monitor, encarando a folha em branco. Muitos que o viram naquela prostração, quando o mesmo sol que agora está possante, ainda estava desanimado, mostraram perplexidade pelo comportamento contrário ao desempenho de alguém concordando com as normas comuns. Ocupava uma cadeira, uma mesa onde um computador limitava o espaço, só isto, não havia louça usada por ter bebido um café, uma água, como é possível que alguém aguente tanto tempo a olhar para uma folha em branco num monitor. Não escreve, nem uma letra, nem uma palavra, nem uma frase, parece impossível não conseguir construir um texto que seja. Ao menos colocar sinais de interrogação, já que não sabe o que quer escrever, ou então para terminar com isto imediatamente, pressionar com o dedo na tecla do ponto final. Acabou! Afinal ainda continua, só que desta vez e após longas horas visando a folha em branco no monitor, escreve – o google está errado – claro que está, continua escrevendo a mesma frase, - o Google está errado – a fita corretora desapareceu da posição inferior da palavra Google na qual a sua primeira letra está escrita em maiúsculas.

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