No mesmo tempo com horas diferentes, rompe outra semana, normal numa anormalidade que não há memória. Talvez só no início do século passado, mais propriamente em 1918, quando a gripe pneumónica, popularmente designada por gripe espalhola, dizimou só em Portugal aproximadamente 136 mil habitantes. Estamos no tempo em que as cidades se tornaram aldeias gigantes e vazias, não há crianças, adultos e velhos nas ruas. Os que arriscam são aqueles que ainda trabalham, os que necessitam de adquirir alimentos, ou os outros, os que não conseguem cumprir o que está em vigor agora. Parecem ratos, apressados quase não se deixam ver, têm momentos que se assemelham mais a sombras do que a pessoas. Na minha cidade a polícia não se cansa de patrulhar as ruas, tem piada, num dia transitam mais vezes pelas suas artérias do que se fosse numa semana inteira, de um tempo atrás, em que permanecia tudo normal. Ao contrário as aldeias iniciaram um período há muito esquecido no interior das suas fronteiras. A progressiva chegada de muitos dos seus filhos, há muito afastados das suas raízres, pelos mais variados motivos, a pandemia tornou-os fugitivos. Fogem de algo invisível e mortífero, têm medo, sentem-se seguros nas suas aldeias, julgam assim que o vírus não os caça. À custa deste devaneio e de alguma hipocresia, inadvertidamente poderão estar a contaminar os mais frágeis, aqueles com menos defesas, os que sempre habitam as aldeias. Que consequências irão infligir nesta povoações. Quando tudo passar, poderão ficar, uma vez seguros agora, confiantes para sempre nas aldeias que sempre os abraçaram. Ou então, vão-se os velhos de vez, e vão os que só vieram acobardados. As aldeias ficarão desabitadas, serão raros os que vaguearão, pelas escassas ruas desertas, casas vazias de murmúrios de risos e choros, só os gritos do silêncio perdurarão.