Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

12928121_10205938173321615_8776660950808636598_n.j

A névoa rasteira e cerrada, provoca no início do dia uma incógnita do que nos aguardará no resto das nossas vidas. Um enigma que perdurará nos próximos tempos que aí vêm, onde andarão, como estarão, os leitores da biblioteca ambulante? A solidão tomou conta deles por não possuírem histórias novas? Pelo experiência de variadas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, o afastamento é há muito tempo a companhia mais assídua, embora a biblioteca ambulante continue a assinalar as suas existências. Há outros que continuam presencialmente, a padeira todos os dias, o peixeiro, o merceeiro, o açougueiro com dias próprios. A tristeza invade-me por não poder ser um deles, na minha teimosia continuava a levar histórias, um carregador de informação para lá e para cá. Permanecia na linha da frente, assim como estão todos os outros que são necessários, as histórias são como o pão, matam a fome de ter conhecimento. Matam a solidão, anulam o assunto mais comentado nos dias de hoje, quando lidas com prazer, viajamos personificando os seus personagens. A leitura da  minha história e a da biblioteca ambulante parou na página 13, a meio do capítulo de março.

Wook.pt - O Grande Bazar Ferroviário

Sinopse

O Grande Bazar Ferroviário é a narrativa que Paul Theroux faz da sua épica viagem pelos caminhos-de-ferro da Ásia. Repleta de evocativos nomes de comboios lendários - o Expresso do Oriente, o Correio de Khaibar para o Entroncamento de Lahore, o Correio de Deli proveniente de Jaipur, ou o Expresso Transiberiano, entre outros -, descreve os muitos lugares, culturas e paisagens por onde passou e as pessoas fascinantes que conheceu. De farrapos de tagarelice a monólogos ocasionais, passando por envolventes conversas com outros passageiros - como com Molesworth, um agente de actores britânico, ou Sadik, um ricaço turco -, este é um maravilhoso relato das alegrias românticas das viagens ferroviárias.

Quetzal Editores, maio de 2011

IMG_20191118_155337.jpg

 

As palavras estão difíceis de correr na folha de papel, não sei se de um bloqueio ou simplesmente não querem desprender-se da mente, e da memória. A caneta cheia de tinta está pronta na linha de largada, sem saber ainda que ritmo irá desenvolver, até como terminar nas linhas finais. Os assuntos também estão de quarentena, é como escrever numa pista oval, a caneta parte, passa sempre pela linha de partida e chegada até o número de voltas acabar. Fora deste redondel há tantas matérias,  as palavras seriam outras, a caneta seria uma maratonista, escorregaria consoante o impulso dado pelos dedos, possivelmente o escritor entusiasmado, dando asas à imaginação, com as memórias escancaradas, abriria uma torneira de letras que cairiam no papel formando palavras sedentas de frases. Muitas destas teriam que se esforçar, a caneta teria de se sujeitar à condição de atleta de corta-mato, tal não é a dificuldade que o escritor tem para atingir o final do que escreve. Assim estou eu neste dia soalheiro e frio na casa grande das histórias, sem leitores, sem viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. A barreira é geral, até as bibliotecas que sempre usaram as portas sem fronteiras, se transformaram em abrigos, onde encarregados da conservação, da classificação, distribuição de livros e difusão da leitura, encolhidos nos seus espaços, afastados uns dos outros, aguardam que o ciclo se complete.

01 Abr, 2020

Tenho saudades

IMG_20190409_154345_543.jpg

 

A charneca por onde a biblioteca ambulante desenvolve a sua missão, rolando nas estradas estreitas, sinuosas, de subidas íngremes, de descidas aceleradas, nesta altura estão cheias de plantas silvestres no auge da floração, onde se destacam as  flores brancas das estevas que se multiplicam aos milhares no território das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. O seu aroma é doce e a cor branca faz lembrar a neve que por aqui nunca se vê. Esta planta tem propriedades medicinais, o seu óleo é um bom regenerador da pele, além de aliviar as picadas dos insectos mais atrevidos nos meses de calor. Tenho saudades das viagens e andanças, dos lugares afastados, que actualmente se tornaram próximos de todos os que estavam distantes. Tenho saudade das ribeiras, dos acessos que as transpõem, do rio que no seu início é delgado e corre por estreitas escarpas, transformando-se num barrigudo pela acção do homem. Tenho saudades do outro que atravessa a península e que fala duas línguas,tenho saudades dos rebanhos, das manadas que não se aborrecem de comer as ervas, as bagas silvestres. Tenho saudades dos leitores, dos outros que não lêem, dos que nunca leram, mas que nunca deixam de se aproximar. Tenho saudade de conduzir a biblioteca ambulante, engrenar as mudanças de força, as de velocidade, saudades de acelarar, de virar à direita, à esquerda. Saudades de estar nas aldeias.

Pág. 4/4