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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Sem sabermos atacar de surpresa

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Noutra semana a ver fugir o tempo, e a ininterrupção da chuva a tornarem as palavras  repetitivas em relação a escritas do passado. As oportunidades que não se conseguem recuperar de viagens e andanças já não têm conto, para trás ficaram histórias para dar, gente por conhecer, leitores por agradar e conquistar. Não sei mais a quem recorrer, a inoperância contrasta com o sentimento de querer fazer mais alguma coisa em relação à itinerância das histórias. A invisibilidade do organismo, alterou o futuro numa incerteza permanente, caminhamos e agimos emboscados, sem sabermos atacar de surpresa.

Hoje, quando andamos aprisionados

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O tempo e a memória se não são gémeos andam quase lá, pois não se pode dissociar no meu ponto de vista um da outra. Não há muito tempo, mais ou menos quarenta anos atrás, frequentava muitas vezes, mais do que uma vez por semana salas de cinema, cine-teatros, vendo filmes. Muitos deles sem qualquer mecanismo publicitário relevante, sem por isso ter menor qualidade, pelo contrário muitas surpresas a nível de realização e desempenho de atores à época jovens e atualmente sem eles, hoje a indústria cinematográfica não seria relevante. Foi nesta audácia de obter conhecimento e curiosidade na arte de compor e realizar filmes que deparei com preciosidades realizadas por visionários. Na altura estava longe que os enredos que me prendiam os olhos à tela nalguns filmes, os estaria a viver agora, a ficção de ontem é uma realidade hoje. Na literatura, Júlio Verne, entre outros foi um dos principais, senão o único a levar as suas histórias para além da realidade do seu tempo, foi ao fundo dos oceanos, penetrou a terra até ao seu núcleo, foi à lua, viajou de balão, um sem fim de aventuras fora do comum, quando publicadas. Hoje, quando andamos aprisionados por máscaras, tal e qual como aquela peça (açaimo) de couro que se coloca no focinho dos animais para não morderem ou comerem quando bem lhes apetecer, estamos a viver, a presenciar um tempo para o qual não fomos preparados, ou que merecemos. Que películas verei e que histórias lerei presentemente para saber com  que avaliarei o amanhã?

A opulência cegou-os

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O dia acordou cheio de incertezas quanto ao seu desfecho, tanto pode desabar um aluvião de água, ou um qualquer raio de sol despontar, afastando toda esta mortalha que cobre este bocado de terra. No rio, as águas estão paradas, cheias de interrogações, os homens já nem se debruçam sobre elas, não querem ver espelhados os rostos tapados por máscaras, com vergonha de terem consentido que o mundo se tenha definhado perante  um vírus. Há muito que o universo andava esgotado, sem ideias, para combater a fome, terminar as guerras, evitar as migrações forçadas, consequentes de todo este mal estar. A opulência cegou-os, nunca mais olharam, nunca mais escutaram, a terra agonizante.

Simplesmente precisam

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O  desgaste do tempo, onde se pretende que se faça acontecer, mas que na realidade deixa muito por fazer acontecer. É o que sinto nestes dias em casa no teletrabalho, acontecimentos, assuntos que podiam estar a ser concretizados, histórias que dão prazer e alegrias, se estivessem nos lugares e aldeias das viagens e andanças. Mas não acontece nada disto, nas aldeias os velhos estão ainda mais  companheiros da solidão, aconselham a que fiquem em casa, não se podem aproximar dos mais jovens, dos que têm vidas mais ativas, então o que devem eles fazer? Eles e os outros, os que sabem ler, deviam ter uma distração para além das suas hortas, não acredito que as deixem ao abandono, e depois, do que se alimentariam? Sei de alguns que nem transportes públicos têm para se deslocarem à cidade, aos correios para receber as parcas reformas, nas suas aldeias ou perto delas, muitos destes encerraram de vez e para agravar as suas preocupações, a empresa de transportes que opera neste território com a ausência de passageiros, escolas encerradas, não coopera como deve, para toda a população. Alguns, vergados pelos anos, e pelo trabalho, deixam-se de  interessar pelo o que os rodeia, tornam-se livres, a sabedoria adquirida pelo passar do tempo, dá-lhes liberdade. Independência para se aproximarem da biblioteca itinerante, para tomarem as novidades trazidas pelo viajante das viagens e andanças, para procurarem palavras novas. Exaustos do assunto que todos os dias lhes entra pela casa dentro, na televisão na rádio, nas pessoas da aldeia. Precisam do verbo precisar, de outras histórias, de rir, de chorar, simplesmente precisam. E nós aqui tão perto!

Numa livraria perto de si

Wook.pt - Uma Faca nos Dentes

Sinopse

Pelo meu relógio são horas da matar…

«A voz de Forte não é plural, não é directa ou sinuosamente derivada, não é devedora. Como toda a poesia, a verdadeira, possui apenas a sua tradição (…).»
Herberto Helder

António José Forte (1931-1988), o mano Forte, como Luiz Pacheco o apelidava, é um dos mais admirados poetas portugueses.

Integrou, nos anos 50 e 60, com Mário Cesariny, Herberto Helder e outros, o chamado grupo do Café Gelo. Ligado ao movimento surrealista, traçou contudo um percurso singular, obstinado, aproximando-se das ideias situacionistas e afastando-se de convicções partidárias.

Durante os mais de 20 anos em que foi Encarregado das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, transportando-se numa Citroën abastecida de livros, levou a cultura e o prazer da leitura a regiões isoladas do país.

A sua obra, breve mas poderosa, foi publicada em vários jornais, revistas e antologias, edições originais (de que se destaca Uma Faca nos Dentes, de 1983, que dá nome a este livro) e duas colectâneas póstumas com textos dispersos e inéditos.

Antígona, maio de 2017

Numa livraria perto de si

Wook.pt - Uma Mulher na Arábia

Sinopse

Uma das maiores viajantes do século XX, Gertrude Bell voltou costas aos privilégios sociais para se tornar uma célebre viajante, montanhista, estadista, linguista, arqueóloga, fotógrafa e escritora. Foi responsável pelas políticas britânicas no Médio Oriente após a Primeira Grande Guerra, dedicando a sua vida à questão árabe.

Relógio D'Água, setembro de 2017

A leitura é um risco que tem de ser ultrapassado

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Depois de um domingo anormal, num tempo de aberração, o dia de hoje amanheceu com a ausência do sol no território das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. Num ambiente de cinzento carregado, destacam-se as flores amarelas, teimosas, envolvidas na cor verde das ervas sôfregas, que despontam no horizonte. Na estrada, a mítica nacional 2, a quantidade de viaturas é mais significativa, o barulho dos motores consegue sobrepor-se à cantoria das aves que pululam, nas sobras de olivais, vizinhos da casa onde habito. De repente,  sinto saudades do tempo em que só as melodias das aves se salientavam, invisíveis na ramagem das árvores, ou no quintal, disputando sementes que as flores libertam, nunca se cansando de chilrear. Este desamparo repentino prolonga-se até às aldeias e às pessoas que nunca mais fui visitar e dar histórias, as livrarias o pequeno comércio local e mais alguns reabrem neste início de semana, já é tempo de voltar à estrada, juntar o som do motor da biblioteca ambulante aos outros que por aqui já se ouvem. É importante através das histórias continuar a mostrar confiança, mais urgente agora, depois deste afastamento contra a vontade do viajante das viagens e andanças e dos aldeões leitores e não leitores. Mais do que nunca as histórias serão as amigas que os trarão de volta a uma realidade que não é a mesma de outrora, ou talvez não,lendo-as, julgarão que o que estão a vivenciar não é mais do que outra história de ficção (o que não é verdade). Não faltará muito para que as histórias do amanhã, serão as histórias reais da atualidade. Voltando às viagens e andanças, agora realizadas tendo em consideração a segurança dos leitores e do viajante das viagens e andanças. Ainda bem que as histórias não têm máscaras ao contrário de outros tempos, em que escrever e comunicar veracidades  era um ato de coragem, neste momento difundir as histórias, a leitura é um risco, que tem de ser ultrapassado com máscaras, continuando a viajar pelas aldeias da minha terra.

 

 

Numa livraria perto de ti

Wook.pt - Todos os Caminhos Estão Abertos

Sinopse

Todos os Caminhos Estão Abertos é uma seleção de textos que Annemarie Schwarzenbach escreveu sobre uma viagem ao Afeganistão em 1939. Neles reflete-se a magia das paisagens áridas, a sua curiosidade pelos arcaicos hábitos do Oriente e pela vida das mulheres sob o Islão e o desejo de liberdade.

Relógio D'Água, novembro de 2016

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