Não deixe o fim de semana para trás sem uma boa leitura!...
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Nas Sentieiras sabiam da chegada da biblioteca ambulante, a travar a marcha na íngreme descida, antes de estacionar defronte do Mercadinho da Fonte, no mesmo sentido, uma leitora segurava um saco contendo histórias para devolver. O entusiasmo por poder levar outras estava estampado nos olhos, e um diálogo empolgante para o viajante das viagens e andanças. As pessoas ao dirigirem-se ao mercadinho, aproximaram-se, com saudações animadas. A biblioteca ambulante deixou desamparos, mesmo naqueles que não lêm, têm gosto que esteja na aldeia, retira-a do anonimato.
Verão prematuro, campos arroxeados, leitores incomunicáveis, é a tarde possível na aldeia da Lampreia nas viagens e andanças. Só a mensagem por voz permitiu ao viajante das viagens e andanças, informar da paragem da biblioteca na aldeia. Na Casa Branca, aldeia seguinte, a música cigana retumba de tal modo do interior de um automóvel que abafa qualquer som ao redor. O sol está violento, é um reaprender das viagens consoante as deliberações dos elementos, há dias em que a agressividade natural provoca reflexões. Vêm, não vêm, é sempre assim de manhã ou de tarde nas aldeias, quando há sentido, objectivos e teimosia, as consequências são sempre positivas. Gosto das pessoas, da humildade, com a vivência incorporo o método, os costumes, consigo chegar a eles. Não foi fácil, só com muitas visitas começam a confiar nas histórias, habituam-se, depois usam-nas, ou descartam-nas. São sempre bem vindos.
Nascido no concelho de Abrantes, na aldeia de S. Miguel do Rio Torto, Eduardo Catroga apresenta-nos "Desenvolver Portugal", reflexões em tempos de pandemia. Um livro com os olhos postos no futuro com o passado sempre presente.
Aldeia do Mato foi a primeira aldeia de hoje a ser favorecida com a presença da biblioteca ambulante. Junto da fonte, onde a água não deixa de correr na bica, a conversa animada, convidou o viajante das viagens e andanças a permanecer um pouco, ouvindo as notícias de um lugar onde há muito não estava presente. Uma história ficou logo ali, outras ficarão nas próximas visitas, a informação correrá depressa, de casa em casa. Na Abraçalha de Baixo, quem se aproximou das histórias, ficou contente, pela primeira vez têm a influência da biblioteca ambulante. Houve quem dissesse que tem em casa muitos livros do Círculo de Leitores, ou a telefonar aquele, ao outro a dar a boa nova. Agora em Martinchel, aproveitando a sombra da tília, a corrente de ar fresco que entra e sai rapidamente, como uma ventoinha, só quero que as histórias tenham sucesso.
Uns fazem vista grossa à biblioteca ambulante estacionada no largo do Cabrito, mas também há os que se aproximam, para se afastarem logo depois, a curiosidade é real. Sentados nas esplanadas bebem o café, olhando de longe a carrinha, causadora da bisbilhotice. Dobram o corpo, esticam o pescoço, falta o mais difícil, levantarem-se e dirigirem-se para as histórias. Estas muito aflitas, não sabem o que lhes espera, se continuam nas estantes, se há quem as leve. São também as incertezas do viajante das viagens e andanças.
A manhã sorriu, depois deixou de revelar a satisfação demonstrada, quando todos nós iniciavamos o dia. Foi com alegria que as viagens e andanças com letras partiram para a estrada em direção à aldeia do Vale das Mós. Alguma actividade nos campos que ladeiam a estrada nacional n°2 , não só leva quem se dirige para sul, mas permite que as histórias na biblioteca ambulante cheguem a casa dos leitores destes lugares. Conduzir enredos ao longo das planícies, observar os animais pastando, cegonhas a perseguir máquinas agrícolas a rasgar a terra com as suas lâminas afiadas. Arriscar, apostar na leitura, nas pessoas, fazer acontecer, é o destino do viajante das viagens e andanças.
Por momentos perdi o conhecimento onde estava a conduzir a biblioteca ambulante, na estrada em direcção à aldeia do Vale de Açor, nas viagens e andanças. A paisagem modificada pelo abate de eucaliptos numa extensa área, retirou-me a orientação. Logo depois o destino foi reconstruído, no tempo passado, a estrada ladeada por estas agigantadas árvores, transmitia solidariedade e aconchego, a quem transitava. Actualmente é uma planície devastada, onde partes lenhosas e raízes, aguardam pela remoção. O terreno não estará muito tempo despido, voltarão as máquinas a esventrar a terra, novos socalcos se formarão, plantas jovens repostas, num abrir e fechar de olhos crescerão, e voltará a estar tudo como dantes. São como as histórias, vão e voltam, nas aldeias alcançadas pela biblioteca ambulante.
Uns sabem ler, outros não, alguns não se lembram e há aquele que não foi à escola, mas sabe ler, não fosse um tio que o puxava no fim de um dia de trabalho para o ensinar a ler e a escrever. Histórias de vida, histórias de estimular, acontecem na aldeia de S. Facundo, a leitura e a sua magia de pôr a ler gente que quase nunca lê.