À roda da Bia a cantar a mulher perfeita, à roda da Bia a lembrar o poeta. À roda da Bia a falar de Fátima. À roda da Bia, estão Motivos de beleza em rostos ocupados pela rudeza. À roda da Bia, Ainda não se escreveu a história toda. À roda da Bia revivi Cantigas de saudade, narradas por velhos cheios de felicidade. À roda da Bia, sem Ciúme celebramos O livro do povo nas palavras do António Botto.
A leitura, as histórias são o caminho para atingir, eles pouco lhes importa, desejam ouvir, comunicar, revelar o que lhes vai na alma. São momentos onde choramos, e rimos, a meninice, as dificuldades que atravessaram nas suas já longas existências, os filhos, os netos. O tempo aqui passa depressa, têm sido os últimos dias nas viagens e andanças.
A Maria tardava, a manhã prosseguia em Alferrarede Velha, a temperatura agradável trouxe as pessoas para a esplanada do café. A Maria adiava, a curiosidade continua a cercar a biblioteca ambulante. Mas não passa disso. A Maria retardava, a moleza não se ergue das cadeiras de apoio às mesas colocadas no lugar aberto, a facilidade no palavreado não é a mesma para a leitura. A Maria já não vem, rumo a outro destino, mais adiante, na estrada, vejo um braço estendido ao longe, próximo, deparo com a mão da Maria gesticulando para estacionar. Abrando a marcha da biblioteca ambulante. A Maria está empalamada, caíu, duas vértebras não aguentaram a pancada. O pior já passou, agora é tempo de histórias novas.
O relógio da torre sineiro bate as 16 horas no largo defronte da igreja, na aldeia de Río de Moinhos, só o sol acompanha a biblioteca ambulante. Teimosamente permanece com os seus longos braços a tocar nas histórias, estas ambicionam sair daqui para fora. Talvez por estarmos num período em que são as férias que dirigem o destino, os leitores não surgem. Ao longe vejo-os a aproximarem-se, pegando nos sacos, interiormente estão as histórias regressando às estantes, outras vêm confortadas nos braços e há aquelas que chegam agarradas por mãos rudes. Hoje lamentavelmente não aparece nenhum leitor ou leitora, só a lamentação do vento se ouve.
As pessoas na aldeia exibem um sorriso rasgado, não é caso para menos, a aldeia tem mais população. Os emigrantes regressaram, alguns há muito que estavam ausentes, a doença que alcançou o mundo não lhes deu possibilidade de desfrutarem o merecido repouso junto dos seus. A biblioteca ambulante é testemunha, o movimento rodoviário é superior, automóveis de custo acima da média, transitam vagarosamente pela rua da aldeia, para que os observem. Geralmente a surpresa é daqueles que nos olham cheios de orgulho e vaidade, esbarram na biblioteca ambulante e nas pessoas ao redor das histórias. Nunca prognosticaram que as suas gentes confiavam no viajante das viagens e andanças e nas histórias que não se esgotam.
A animada conversa terminou quando os jornais foram colocados nas mesas que agora ocupam o escasso espaço defronte da mercearia e do café, utilizado no momento para esplanada, na aldeia da Foz. Aos olhos do viajante das viagens e andanças é extraordinário, quem não gosta de ler, são eles que o afirmam, fixam os olhos, devoram as páginas do jornal. Cada um com o seu exemplar, a pouco e pouco retomam os diálogos, sem desviarem os olhares das letras. Comentam as notícias impressas nas folhas pardacentas. São pequenas acções, que contribuem para desbloquear a preguiça, até a vergonha, a interdição à leitura. Podem mesmo actuar como força motivadora para continuarem, explorando histórias, ou curiosidade de quererem saber mais.