Onde param as mulheres ...
Onde param as mulheres sentadas no banco de alvenaria, sempre que a biblioteca ambulante permanece no largo São João de Brito. Onde estarão as leitoras e as que aguardam pela padeira diariamente, não podem ter desaparecido subitamente. O largo vazou, não há histórias para ouvir, para dar, o mexerico, motor da oralidade de lugares estará danificado, ou será apenas coincidência ter vindo à aldeia novamente e deparar com esta desocupação. As hortas neste princípio de outono não necessitam de carinho excessivo, somente de olhares cheios de amor para as plantas crescerem saudáveis. A estrutura física de algumas também não permite riscos, isto da manutenção dos legumes tem muito que se diga. Flexões, agachamentos, segurar alfaias agrícolas, revolver a terra é esforço que aos setenta, oitenta anos e por aí adiante não deve ser exercido, mas teimosamente continua, por necessidade, por não quererem morrer. Seria fascinante que a laranjeira me confidenciasse a causa das mulheres não estarem por perto, as laranjas são verdes e pequenas, aspiram ser adultas e vestir roupa colorida como a menina do Moletom Laranja. Assim fosse se chovesse mais, sem água para os seus frutos a laranjeira está triste. Receio que não queira mencionar tal coisa, elas confiam-lhe os segredos. Debaixo dos ramos protegidas do sol pelas folhas perenes, imagino os desabafos, a satisfação, o choro, a desavença com a solidão, sentimentos constantes aliviados sob a laranjeira. Saio da aldeia com saudades do cheiro de laranjas, das pessoas que usam a biblioteca ambulante.