Na aldeia não há ...
Encurralada sob os prédios altos do bairro, a biblioteca ambulante está sem leitores até ao momento do inicio da crónica de hoje. O frio continua a seguir-me, o mesmo acompanhará os leitores caso saem de casa, na rua as pessoas caminham apressadas em direcção ao café, outras juntam-se ao sol a fumar. A biblioteca ambulante desafia-as, olham para as histórias, logo ali tão perto, falta-lhes dar aquele passo que poderá mudar-lhes hábitos, aprenderem qualquer coisa. Estou como elas, olho-as, não dou o passo que poderá criar uma relação, está frio na rua. Quem ganhará o impasse? A indecisão estabelecida é interrompida pelo som ensurdecedor de sopradores e roçadoras a limpar e eliminar as ervas invasoras nos passeios, imediatamente aniquilaram hesitações, fugiram para o café, dei por terminada a manhã das viagens e andanças. O dia avança com percursos a acontecerem para além do rio Tejo, julgo ter mais sorte na segunda parte da jornada, mais logo, mãe e filha virão devolver histórias. Na esplanada do café desconfio dos frequentadores, são sempre os mesmos ao sol todas as vezes que a biblioteca ambulante estaciona próximo. Na aldeia não há melhor lugar para se aquecerem, observam a estrada trazendo e levando forasteiros nos automóveis apressados, a trabalharem nos veículos pesados, transportando mercadorias. Possivelmente imaginam-se num qualquer meio de transporte destes a viajarem, a visitar o país que nunca conheceram, transpor fronteiras, uma volta ao mundo. A curiosidade não os demove, parecem lagartos ao sol, as histórias, autênticas estradas para saberem o lugar onde estão, leva-los-iam num percurso do qual nunca mais sairiam. Não há volta a dar, a biblioteca ambulante continuará a estacionar perto, continuarão tranquilos ao sol, a ver o tempo a passar.