O silêncio surpreendido ...
A leitura em voz alta, partilhada à mesa, embrulhada nos novelos de linhas coloridas, progride noutra aldeia. A mesma história com outras pessoas estimula as mesmas emoções, puxa as memórias arrumadas nas gavetas do labiríntico compartimento mental. O enredo de mão em mão à roda da mesa destaca-se, o silêncio surpreendido por ser também ouvido na pausa de um parágrafo, num ponto final ou na mudança de uma linha de palavras. A magia daquele que escreve em quem lê é imediata, acompanham a decifração, penetram na sequência dos acontecimentos escutados, saltam à vista serosidades, o ruído de um nariz faz-se ouvir, depois outro. Este desconforto saudável generaliza-se no interior da antiga sala de aula. No final da leitura os comentários não são diferentes dos outros que ouvi nas outras aldeias, a história escrita atinge de tal maneira as leitoras, estejam onde estiverem, no território separado pelo rio Tejo. a norte e a sul, mostrando vivências diferentes, contudo, manifestando sentimentos iguais.