Não matem a poesia ...
Receio a continuidade da biblioteca ambulante no próximo verão nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. Fico assustado pela morte súbita das histórias na casa dos leitores, isto porque segundo li, a Carta de Perigosidade de Incêndio Rural prevê o impedimento das pessoas de saírem de casa em dias de alto risco de incêndio nas zonas rurais. Como eu deverão estar a padeira, o peixeiro, o merceeiro e todos os outros cujos ofícios ambulantes dependem das pessoas ameaçadas com outro confinamento. Num território rural as pessoas não podem ficar retidas nas suas casas, as histórias, o pão, alimentos imprescindíveis têm de atingir estas pessoas. As romarias no verão, o regresso dos filhos emigrados, o passado e o modo como se desenvolveram ao longo do tempo estarão em risco, será pior que o incêndio. E no futuro como será com a subida da temperatura a progredir de ano para ano, as estações climatéricas equilibradas, sempre quentes, o risco elevado de incêndio será sempre constante. A decadência populacional nas aldeias é um problema real, como poderemos contrariar a queda com outra atitude violenta. Quando devíamos cativar, a permanecerem, a voltarem, trazendo outros a gostarem de viverem nas aldeias, a contrabalançar o país na densidade populacional. Na charneca as primeiras flores da esteva, uma planta que produz uma resina balsâmica, o ládano, destapam-se revelando a cor. São as primeiras palavras neste livro de versos, o território rural, a afrontarem o inverno a nossa impiedade. Não matem a poesia, leiam a beleza, a sensibilidade, plantem árvores, criem raízes.