Quem continuará a escrever ...
Indiferente ao silêncio, ao chilrear das aves, há ausência, observo as pequenas parcelas de terrenos colados às casas, as primeiras batatas vêem a luz dia. Os conjuntos de tubérculos amontoam-se, ocupando o espaço próximo da biblioteca ambulante. A enxada manuseada por quem sabe escrever e ler a terra retirou-as do subsolo. Estas palavras são imprimidas com violência, com esforço, ultrapassando muitas vezes o necessário. Já não há muitos escritores assim, a saga a qualquer momento poderá correr o risco de ser interrompida, a terra que substitui o papel ficará esquecida, crescerão palavras sem regras. Quem continuará a saber escrever romances na terra com a tinta que o rio traz, a lê-la com olhos experientes, perceber as temporadas, ou as influências dos tempos. São escritores reconhecidos na família, premiados à mesa com as palavras cuidadas por eles, cheias de sabores fortes e agradáveis. Os aromas libertados do interior das panelas e dos tachos, transportam qualquer um destes Nobel a merecerem imortalizar as suas obras nas bibliotecas do mundo rural. Nos filhos e netos que não sabem escrever e ler a terra, no que é falado, na memória do viajante das viagens e andanças.