Neste teatro de sombras ...
O único ocupante do largo é o sol, exceptuando as silhuetas fugazes projectadas no pequeno espaço, surgem e desaparecem, misturam-se com os contornos dos edifícios, não tenho tempo para ver quem são. Uma delas transformou-se num leitor, assustou-me quando o vi entrar pela porta traseira da biblioteca ambulante. Neste teatro de sombras chinesas improvável, pus-me adivinhar o que representavam, homem ou mulher, um gato vadio ou um cão desobedecendo ao cativeiro de uma corrente que o prendia, a enfrentarem o calor. Silhuetas que recontam histórias, narram o presente do largo, esguias, mais cheias, curvadas. Imagens reflectidas no alcatrão, onde estiveram a terra e as pedras, sombreadas quando o sol assim o exigia. Na obscuridade do interior da biblioteca ambulante as histórias dão calor aos leitores, brilham nas aldeias da minha terra.