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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

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O espaço no centro da aldeia está a ser cuidadosamente limpo, as ervas daninhas são arrancadas por alfaias mecanizadas, o restante acumulado na rua é afastado violentamente pelo sopro de outra máquina. Substituta de Éolo, o Deus do vento, esta é manobrada por um homem, é possível que seja Zeus, pai dos deuses, só tem de fazer pressão com um dedo num botão, depois os mecanismos recebem a energia e o soprador de folhas ganha vida, os quatro grandes ventos fazem o resto, levando tudo à sua frente. Aproxima-se o dia da celebração do nascimento do poeta António Botto, na aldeia da Concavada, tem de estar tudo arrumado para receber a actuação do Grupo de Teatro Palha de Abrantes, com a sua nova representação, "Botto em palavras" .Quinta feira, dia 17, o largo acolherá os locais, os forasteiros curiosos, os que não sabem quem foi António Botto, contemporâneo, amigo de Fernando Pessoa e de outros criadores da época. Ventos menores trazem odores de tabaco, só podem estar fumando os clientes sentados na esplanada do Café do Largo. Ocupando um pedaço do passeio, duas mesas, umas quantas cadeiras e grades de cerveja empilhadas dão visibilidade ao espaço, ou a quem precise de se refrescar. A estrada nacional também atrai, e há os que estão ali a ocupar as cadeiras a verem passar os carros, o tempo. À semelhança da outra aldeia onde a biblioteca ambulante e as histórias vão, a estrada é a mesma, as pessoas são outras, os hábitos não se alteram. A ausência de ocupação empurra-os para a companhia do alcóol e da vagabundagem, onde os cigarros fumados atrás uns dos outros são confidentes.