A manhã preserva a ...
Quando estaciono a biblioteca ambulante, trago sempre alguma ideia, ou um tema para iniciar a escrita do dia nas aldeias. A manhã preserva a inspiração aprisionada no resto do dia anterior, durante a noite a tentar esquecer a temperatura, há que aproveitar a oportunidade, esta arrumação toda baralha-se em Rio de Moinhos. A mesma leitora surge sempre quando estou no início de esvaziar as palavras para a folha digital, o texto começa logo aos solavancos. Entra na biblioteca a falar, explora as histórias para levar a expressar-se como se o mundo terminasse brevemente, e não obtivesse tempo de dizer tudo. Neste momento o meu cérebro entra em ebulição, a tentar manter o conceito esboçado, a pouco e pouco avanço, escutando o que me vai dizendo, solto algumas palavras sem tirar os olhos da folha, ouço-a atentamente, querendo delinear ao mesmo tempo sem me perder no teor. Muito do que oiço, não é novidade, repete-se nalgumas das histórias, mexo a cabeça de cima para baixo, aprovando o que diz. Ultrapassado o intervalo, encontro novamente o rumo, no que escrevo, para a aldeia seguinte. Agora o calor é o meu parceiro, andou aqui um leitor, estava longe de imaginar que a indecião, encontrar a história certa, o autor preferido, o que nunca leu, deixava o leitor a escorrer gotículas de suor pelo rosto. Um esforço árduo mesmo para quem é um assíduo leitor, o mesmo faz o arqueólogo na escavação para achar testemunhos de escritas primitivas. Ou o bibliotecário da biblioteca ambulante, o que se faz por paixão não gera cansaço ou fraqueza.