Os passaritos aprendiam a ler ...
No campanário da igreja, o relógio dá as 15h, um pouco abaixo envolvida na sombra do plátano grande, a biblioteca ambulante é favorecida pelo sopro, ao mesmo tempo, quente e fresco do vento. O sussurrar da aragem bate na charneca e regressa logo trazendo o fremir dos insectos pousados nos ramos das árvores. O vento não sabe o que quer, tem momentos que não se sente, parece adormecido, é engano meu, sem avisar volta a agitar as copas das árvores. Os pássaros não se ouvem, também eles sofrem com o calor, camuflados na folhagem, talvez aproveitando o embalo do vento quando o há, adormecem numa sesta merecedora. O relógio volta a tocar, desta vez projectou as 15h30m, finalmente surge um automóvel, é preciso coragem para conduzi-lo, um forno sobre rodas, sei bem o que é. Leitores nem vê-los, a novidade foi um pequeno pássaro cinzento querer arriscar entrar na biblioteca ambulante, não sei decifrar a linguagem dos pássaros para perceber o que pretendia. Talvez depenicar as letras das histórias, o tempo da construção dos ninhos já passou, como seria um ninho erigido por letras. Os passaritos aprendiam a ler até se aventurarem no primeiro voo, batendo as asas conscientes dos perigos, do homem analfabeto.