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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

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O sol está toldado, apanhado de surpresa na desaceleração repentina do verão, a marca da travagem está representada nas pessoas a usarem casacos com pouca espessura. Nesta semana, nos dias infernais, saíamos para a rua  livrando-nos da roupa possível, tentando estarmos mais confortáveis. O vai-vem do planeta está cada vez mais instável, as viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, são fortemente influenciadas pela ausência da firmeza climática. As pessoas, os leitores, o património natural, estão constantemente a sofrerem alterações. O quotidiano na aldeia do Vale do Açor parece inalterável aos olhos daqueles que atravessam a aldeia, nem tudo está como dantes, os mais velhos reclamam da excessiva temperatura, cada vez mais intrometida no modo de viver desta gente.  A tarde puxou o vento, seria bom trazer os leitores também,  a biblioteca ambulante está na aldeia das Bicas, aproveitando a generosidade da tília que não se opõe ao abuso da sua sombra. O vento é mais forte, supera a força de vontade do viajante das viagens e andanças conseguir leitores, entra e sai na biblioteca ambulante rapidamente, agitando as folhas dos jornais à sua passagem, acredito que leve a boa nova. O peixeiro com a sua música melodiosa também não demove as pessoas a saírem de suas casas, o som perde-se nas entranhas do vento, levando-o com ele a desafiar os pássaros silenciosos. Um pequeno circo instalou-se no largo da aldeia de S. Miguel do Rio Torto, sem a tenda enorme, estes artistas nómadas têm tudo preparado para a actuação. As folhas das árvores dançam acompanhando o som que sai das enormes colunas a ladearem o exíguo espaço das apresentações artísticas. O largo da aldeia está inquieto, a pequenada montada nas bicicletas não se cansa de cirandar junto das roulotes. Tentam advinhar qual deles, os que ali estão no centro, colocando as cadeiras para o público se sentar, é o palhaço, o malabarista, o ilusionista, ou a contorcionista. As histórias sempre foram a atracção do largo, hoje perderam o protagonismo, dois ofícios ambulantes, duas paixões a pensarem na qualidade de vida das pessoas.