Aqui não há lavadeiras ...
Parece-me que a chuva arrumou a trouxa e foi de vez para outras paragens. A névoa, presente, impede a observação do rio adormecido no amanhecer, no leito, há muito que desapareceram vestígios da sua navegabilidade. Nem uma âncora de memórias, visível, há para relembrar um passado rico em navegação e comércio. As passagens frequentes da biblioteca ambulante sobre este, na ponte que une as duas margens, permite ao viajante das viagens e andanças, avistar antigas indústrias sustentadas pelo curso de água ibérico durante anos. Felizmente há documentos, e textos publicados que mostram a importância do rio no passado e nas pessoas de então. Há bibliotecas que os preservam, os levam às pessoas, ao bairro mais afastado, pelas ruas emaranhadas, ladeadas por prédios altos. Torres de vigilância a vibrarem de curiosidade, sempre que a biblioteca ambulante faz dele ancoradouro. Aqui não há lavadeiras curvadas a lavarem roupa, a branquearem-na ao sol, nas margens, poderá haver roupa suja, intrigas, mas, isso há em todo o lado. Há histórias, âncoras às quais as pessoas que espreitam pelas seteiras das torres, disparando olhares inquietos, ou circundando a biblioteca ambulante, podiam agarrar-se. Não se afundariam no lodo do rio, andariam acordadas ao encontro de novos horizontes.