Não lhe comprei botas ...
Um gato afastou-se rapidamente, quando avistou a biblioteca ambulante a entrar no espaço do estacionamento habitual em Casais de Revelhos. Fiquei desapontado por o ver tão apressado a deixar o sítio onde as histórias terminam a primeira viagem da tarde. Não quero acreditar que o gato saiu disparado para avisar os leitores da presença das histórias na aldeia. Não lhe comprei botas, nem sequer um saco, só faltava agora o gato pôr-se por aí a caçar coelhos para ir aliciar os leitores. Parece que estou a vê-lo a bater à porta das pessoas da aldeia, a oferecer os coelhos apanhados nos buracos, na floresta. Qual será a expressão nos rostos destes ao verem o gato com as botas calçadas e um saco pendurado ao ombro, tal possibilidade só acontece nas histórias. Animais que falam, se vestem e calçam como os humanos, torna-se realidade na criatividade daqueles que arriscam a portabilidade das palavras a caminho dos lugares desconhecidos, inimagináveis para alguns mas assíduos a vaguearem na mente destes. Assim como a chegada à biblioteca ambulante de um grupo de aves curiosas, ou será imaginação do viajante das viagens e andanças a estender-se numa planície de papel?