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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

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O dia não tem tempero, nem é ausência de sal, falta-lhe alegria, não tem leitores para fortalecer o sabor. Fico com o tempo para explorar as receitas da escrita, bem ou mal, cozinho com vontade, procuro aromatizar os pratos, vou às margens dos ribeiros encontrar as ervas e folhas selvagens, as mesmas que os antepassados aproveitavam nas suas escritas. A mesma, na qual a ninfa se transformou na sua árvore, unida a outras num círculo, distinguiram personagens da história.  O dia está desenhado a lápis de carvão, as cores branco e preto predominam na folha de papel cavalinho. Arrisco a desenhar, não é a mesma coisa do que escrever, explanar o traço na folha de desenho permite narrar uma história diferente aos olhos dos observadores da obra exposta. Novamente no fogão, mexendo os ingredientes no tacho, misturando as ideias, salteando as letras na frigideira para se formarem palavras. Provo, é necessário um pouco mais de caldo para a inspiração do prato, a concepção literária sem os sucos dos legumes e das carnes, e frutas também, perde os amantes dos saberes culinários. A literatura leve é uma boa entrada para gastronomias enriquecidas com substâncias diferentes. A chuva manifesta-se de forma excessiva na aldeia do Pego, lugar famoso pelos petiscos confeccionados com carnes do porco. Todas as quartas-feiras, os forasteiros abeiram-se das tascas, ou casas de restauração, para lamberem os dedos cheios de gorduras, aromatizadas por condimentos modificados no calor das brasas do carvão.