Foram raios de sol ...
Foram raios de sol, os que entraram pela manhã a revirarem do avesso a neblina matinal. Espevitando o estado da prostração, estampada no rosto do viajante das viagens e andanças. Enlearam histórias, como quem liga as linhas nos bordados, retiraram outras para lerem, muita actividade junta para o início da manhã na biblioteca ambulante. Soube em segredo, do descontentamento do proprietário de um café, referente ao estacionamento da biblioteca ambulante, sempre próximo de outro estabelecimento com o mesmo teor. Não esperava por isto, rivalidades à parte, a paragem no sítio habitual, tem de ser, pelo espaço, pela acessibilidade dos leitores a entrarem no recinto das histórias. Não fiquei melindrado pela insatisfação do dono do café, pelo contrário, tenho orgulho pela biblioteca ambulante, a fixar pessoas na orla da área do seu estacionamento. A prender leitores, infelizmente insuficientes para a dimensão do território das aldeias da minha terra. A tarde está de vento em popa, os cabelos das mulheres, na rua, equiparam-se às serpentes inquietas, na cabeça da Medusa. Não param quietos, tapam-lhes a vista, estão constantemente com as mãos no rosto a desvia-lo. O gesto não é para incitar a olha-las com o rosto sem cabelos, mas, porque incomoda, dificulta-lhes a observação atenta da biblioteca ambulante. Encaro-as sem receio, de ficar transformado numa pedra, desafio-as, a entrarem na biblioteca ambulante, para terem possibilidades de hábitos de leitura. Comparecerem umas, outras não se interessaram, levaram histórias, apesar dos queixumes do costume, têm sempre muito que fazer, menos para ler. Também houve uma leitora, quando viu a biblioteca ambulante, lembrou-se, das histórias esquecidas em casa para devolver, entrou desculpando-se do pequeno apagão da memória, mencionando de seguida que não levaria nenhuma história. Não resistiu a uma sugestão do viajante das viagens e andanças, acrescentando mais outra à sua ficha do empréstimo. As vozes exaltadas dos homens no café a jogarem às cartas, chegam à rua, sons rudes a extinguirem um dia de trabalho no campo.