O verão irá voltar ...
A chuva é mesquinha a cair, não lhe escapa nada, atenta, não deixa ficar nada por molhar. Tive que fechar as portas da biblioteca ambulante, proteger as histórias, do afecto extremo da água. Após o almoço, no largo do Cabrito, a precipitação está acelerada, desleixou-se com as pessoas, com os leitores. Não se vê ninguém no largo, os automóveis circulam, como a chuva, cheios de pressa, ignorando a biblioteca ambulante estacionada. Não há tempo a perder com olhares indiscretos às histórias, no interior, os condutores e passageiros não vêm a hora de chegarem aos destinos. As histórias estão abrigadas e firmes, voltam sempre ao mesmo sítio, são mais uns dias. O verão irá voltar, o sol e a temperatura farão o resto, pararão para se refrescarem, viajarem na sombra das histórias. Serão exploradores nas páginas a descobrirem as letras, alpinistas a treparem degrau a degrau as etapas do crescimento, apoiando-se nas palavras. Não ficam por aqui, vão da terra à lua a sonhar, mergulham no abismo do oceano, guiados pelo Nautilus. Aventuras fantásticas a bordo da biblioteca ambulante, transformada numa fragata marítima, num submarino ou num foguetão, naquilo que a leitura possibilita, a representação da realidade.