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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

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Dromedários com asas, andam há muito nas páginas das histórias, pelos desertos privados da imaginação, da informação, da cultura, excluídos das verdejantes pradarias. Mudando de lugares, deslocando-se na biblioteca ambulante, pelas aldeias da minha terra. Fazendo diligências para descobrirem o Salvador, a capacidade de usarem a leitura e a escrita como forma de criar asas naqueles que não conseguem voar. Nas histórias, a deixarem um rasto de palavras, servido-se das mãos e dos pés para atingirem o topo das frases, ultrapassando os obstáculos, vírgulas, pontos e vírgulas, pontos finais, pontos de exclamação, de interrogação, até as reticências parecem planícies a perder de vista, com espaço para fantasiar. A biblioteca ambulante sempre foi uma feiticeira nas aldeias da minha terra, seguindo o sinal deixado no céu pelo cometa, não descansa um único dia até o encontrar, num longínquo lugar do passado. Continuando presente nos dias de hoje, aos vindouros, numa itinerância sem fim, à roda das pessoas, nas aldeias da minha terra. A estrela adiantada, não se deixa apanhar. A confiança em conseguir alcançar a libertação das pessoas pelas histórias, o faz de conta, que ouvimos  dizer, pelos avôs, pelos tios, pelos pais, desde pequeninos, ao som do lume a crepitar nas lareiras. Ao mesmo tempo que as filhós bailavam sincronizadas no óleo sagrado, nas sertãs. A magia deste tempo é a mesma do outro, na biblioteca ambulante a esperança de mais leitores, são eles as peças mais agradáveis no limite das histórias. Coloridos, ao redor da biblioteca ambulante, agarrando as histórias doces, enfeitando-a, como nunca a viram, a árvore de Natal que queríamos ter em nossas casas, os rostos na direcção do céu, onde está a estrela a brilhar. Figuras móveis de carne e osso, acreditando sempre na história do Presépio, do nascimento do Menino Jesus, no Natal e tudo o que ele simboliza. Só mesmo os leitores, os viajantes, os reis magos, os pastores, a transumarem as palavras das histórias, pelos  vales largos, pela charneca, periodicamente, acreditam num simbolismo tão complicado. As histórias fisicamente são pequenos presépios, a sua grandeza está nas palavras, nas mensagens que transmitem a quem as lê, as ouvem, noutro tempo foi assim que encontraram a biblioteca ambulante. 

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A alvura da tarde na aldeia de Martinchel, deve-se às histórias a cintilarem, perante a perspectiva de aparecerem leitores. São eles as estrelas nas viagens e andanças, as histórias salientam-se ao vê-los, impressionando-os com a magia das palavras, com os inimagináveis personagens ao longo das páginas. A biblioteca ambulante, não é mais que uma estrela cadente, sobre as aldeias da minha terra, anunciando a boa nova, o início de uma leitura, da vida independente, a lerem com gosto. As mãos, leitos sem grades, amparando, as mensagens, as opiniões, os ensinamentos, a permissão para sonharem. Viajarem nos  dromedários com asas  pelos céus despovoados de companhia, a difundirem o que nunca foi experimentado. Desafiando o silêncio, ouvindo vozes, escondidas, a falarem entre umas e outras, nas páginas de um conjunto de princípios.