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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

28.02.25

A tarde afastou a chuva ...


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A chuva continua a cair em grande quantidade nas aldeias da minha terra, com fragmentos de terrenos transformados em pequenas lagoas. Os animais não se intimidam com a pluviosidade, com as fuças escondidas na erva, a desbastarem a menos boa, para alcançarem a mais delicada. No Casal da Bica, os cavalos agitam-se, observados pela câmera fotográfica, talvez por saberem que vão ser  perpetuados na imagem, personagens numa narração, que deveria ser sobre livros e autores. São viagens e andanças com letras, numa biblioteca ambulante, pelas aldeias da minha terra. O bibliotecário vai registando apontamentos, reflexões, imaginação, para cativar leitores no meio rural, nos lugares remotos. Para conseguir imortalizar pela escrita acontecimentos nas aldeias, estimular outros a ler a sua criatividade, conhecer o interior do país. A tarde afastou a chuva, ficou agradável, juntou as pessoas na esplanada do café, no largo do Cabrito. Trouxe um leitor à biblioteca ambulante, comprometendo o viajante das viagens e andanças com a leitura e os leitores.

27.02.25

Não foi preciso muito tempo ...


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A chuva apareceu na aldeia das Bicas, no período da tarde, envergonhada no início, tornando-se imperturbável no resto das viagens e andanças. Uma leitora aproximou-se, abri o vidro, não me deixou falar, informando a causa da ausência das histórias para devolver. Não sabia da presença da biblioteca ambulante na sua aldeia, hoje, como irá acontecer com outros. A falta de comparência das histórias, a inexistência do horário, e dias da paragem, da biblioteca ambulante nas aldeias tem sempre consequências menos boas. Afastou-se, prometendo aquando da próxima visita, irá trazer as histórias e substituí-las por outras. Não foi preciso muito tempo para outras duas leitoras aparecerem, traziam revistas para entregar, foram alertadas pela leitora anterior, vieram imediatamente, nem a chuva as demoveu. A comunicação oral ainda faz efeito nas aldeias e nos lugares pequenos, são hábitos transmitidos de geração em geração, acontece o mesmo com as memórias, das aldeias e das suas pessoas.

26.02.25

As palavras são rebanhos de letras ...


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O campo está fulgurante, não são demais as pequenas gotas, luzes brilhantes que o enfeitam de manhã, sob o olhar atento do sol, a estender os braços, tentando abraçar a charneca toda de uma vez. Implicando os aldeões saírem das suas casas, aquecerem os ossos velhos no limiar das portas, os leitores dirigirem-se à biblioteca ambulante. As cores amarela e branca, salpicam as planícies entaladas nas esplanadas naturais, onde, grupos de animais, uns mais numerosos que outros, enchem os estômagos de erva tenra. Uma demonstração de partilha de vários ecossistemas, com as águas dos ribeiros a correrem alegres, afluindo a outros trajectos de água, saciando a sede dos animais. As palavras são rebanhos de letras, nas planícies de papel, alimentando-se nas ideias do escritor, matando a sede na tinta da caneta. Na aldeia da Barrada, o largo, onde está situado o café Areias, tem os limites ocupados com automóveis estacionados, não é habitual, a biblioteca ambulante ficou mais afastada do lugar onde acontece a leitura. O céu, no render, da manhã pela tarde, transformou-se numa manta de nuvens, ofuscando a última. Um sinal ao viajante das viagens e andanças, o restante dia da itinerância será ensombrado pela ausência de leitores.

25.02.25

São apenas reparos, ...


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O vale é uma página aberta a pedir que compareçam na biblioteca ambulante, a escreverem na terra as palavras que darão resultados. Consequências da leitura, do amadurecimento das pessoas que não viram as costas às histórias. O sol impõe-se lentamente, perante as ameaçadoras nuvens negras que não desistem de o apagar. São apenas reparos, nunca deixaram de avaliar, a escrita, as observações, a crítica mordaz. São ondas no céu, tripulantes perspicazes na demanda das palavras incómodas, no ventre materno do vale.

24.02.25

Demais para os leitores ...


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A alergia aos pólen trata-me com despeito, ainda agora está no início, se bem que, indistintamente a primavera ande por aí, nas aldeias da minha terra. Também a biblioteca ambulante regressou, mostrando-se vagamente, após um intervalo longo. Demais para os leitores, para o viajante das viagens e andanças. Infelizmente a leitura continua no segundo plano, nas decisões, na determinação de objectivos. Um desarranjo no maquinismo da porta grande, impediu esta de visitar as aldeias da minha terra, uma desgraça, os leitores ficaram sem histórias. A primavera é o retorno da leitura às aldeias da minha terra, da alegria, das pequenas flores coloridas, das palavras, a emergirem nos campos, na imaginação dos leitores. As flores das amendoeiras, agitando-se ao sabor do vento leve, são as palavras novas que o campo escreve neste princípio da história nova. Uma sucessão natural destes mesmos acontecimentos, manifestam-se nas aldeias da minha terra. Destacam-se uns mais do que outros, as palavras nas histórias também são assim. Choram, pela falta de estima, gritam, marcando a presença, sorriem, quando estão em boas mãos.