Ensopado em palavras, no ...
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O céu desabou nas aldeias da minha terra, a queda de água em catadupa, agita as pessoas. Andam apressadas na rua, não querem ser molhadas, são constantes os disparos de água feitos pelos automóveis. Quando pisam os charcos a ocorrerem de um momento para o outro, a chuva não se cansa, ficam os transeuntes fatigados, ao passarem no local a correr. Entram esbaforidos nos lugares de trabalho, reclamando, encharcados. Andamos sempre a reclamar, quando não chove, quando chove sem parar. Devíamos contestar, a escassez de livrarias, de livros em todo o lado, de hábitos de leitura. Ensopado em palavras, no pequeno largo, estacionado, na biblioteca ambulante, subitamente, vejo as tílias, não estão despidas como da última vez, as folhas embelezam os frágeis ramos, há flores a saírem. Tudo tão rápido, sem tumultos, acontecendo nas árvores, com as flores, no campo, nas aldeias, nos leitores. O terminal de multibanco tem outro utilizador, o barbeiro tem a porta entreaberta, a lâmpada pendurada no tecto da barbearia, tem a barriga cheia de brilho, oiço o fremir da energia nos filamentos, talvez o primeiro esteja a levantar o dinheiro para pagar o corte do cabelo, no barbeiro. O rio de automóveis não se cansa de correr de um sentido e noutro, no leito alcatroado. Dois trajectos, dois destinos, histórias inacabadas.