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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

05.09.25

A terra onde foi plantada, o ...


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O céu não é transparente, não mostra a cor azul, o brilho do sol é mais suave, a temperatura aguenta-se. A faculdade criadora não é a melhor, no viajante das viagens e andanças, os dias com contornos incertos, não trazem nada de novo. Não têm condimentos para gerarem ideias, estão em lume brando, não passam disso, é necessário apurar através dos acontecimentos, dos leitores, das pessoas, das histórias. Só assim o estrugido alcança o sabor, a partir deste ponto, o tacho fica pronto para receber diversas ideias. Mexer as letras todas de uma vez, juntar as palavras, numa colher experimentar uma frase, se tem sal suficiente, se é preciso mais emoção, amor, ou violência. Comidas de conforto são as que gostamos mais, depois, há as mais leves, sabem melhor no verão, desconfortáveis no inverno. A comida no tacho, é discutida, à mesa, com amigos, com a família. Interpretam pormenores, como se prepara, os temas, a mensagem. A terra onde foi plantada, o pasto que a alimentou, o mar que a guardou, três temas que dão asas à criação das refeições. Proporcionando boas leituras para todos os sentidos, de quem gosta de ler, estar com o livro aberto. O prato cheio de texto, a folha branca aguardando que o risco de tinta se torne numa ideia. Depois a bebida, o vinha a água. Leiam com a bebida melhor, aquela que vos faça melhor voltar ao normal. A minha preferida é água com gás.

03.09.25

A biblioteca vem e vai ...


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Aldeia do Mato, povoação assente sobre um braço do rio Zêzere, destacando-se em cima da praia fluvial. O verão traz forasteiros, de passagem, para se banharem na praia fluvial, os filhos da terra ocupam as casas, vazias nos meses que sobram. No século passado, havia quem transpusesse o rio Zêzere quando este não passava de uma linha, torneando calhaus, descendo pelos declives, no meio dos pinhais. Vinham da Serra de Tomar, abastecerem-se no comércio da Aldeia do Mato, após a construção da barragem do Castelo do Bode nos meados dos anos cinquenta, tudo se modificou. A barreira fluvial de betão, fez com que o rio engordasse. Afastou as pessoas que chegavam aqui, passando pelos pinhais, transpondo o rio escanzelado. A troca de produtos foi escasseando, a imigração levou outros, a população envelheceu, diminuindo com o passar dos anos, continuando dinâmica, mantendo as hortas, criando galinhas, para o sustento diário. Receberem os filhos e netos e dar-lhes comida, proveniente do esforço, de saberem estar na aldeia. A biblioteca ambulante vem e vai, quem gosta das histórias aparece, não é sempre, vêm para conversar. Expressam os sentimentos e emoções, destapam histórias da aldeia.

 

 

02.09.25

O momento não mostra que ...


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Na meteorologia, o outono inicia hoje a conquista do território das aldeias da minha terra. Não vai ser fácil apressar a fuga do verão. Este último terá ainda laivos de calor, obrigando a biblioteca ambulante a fazer diligências para encontrar sombras. Traz as crianças a conhecerem histórias, a queda das palavras, folhas, ilustradas pelo tempo. As viagens nos livros causam curiosidade, falam ao mesmo tempo, a professora não tem desembaraço para responder a todos. Por ordem dá os pormenores que cada um necessita para compreenderem o que estão a ver. O momento não mostra que estamos nas primeiras horas do outono, a energia, na biblioteca ambulante é tanta que faz esquecer que caminhamos na direcção dos dias curtos, das noites longas. No Cabrito o largo não tem sol, as nuvens cinzentas pairam em cima deste, por enquanto a chuva não é ameaça. Há calor suficiente para vestirmos roupa de verão. Desta vez, a esplanada do café não tem pessoas, não há histórias para se ouvirem. Mexericos, soprados pelas vozes das pessoas do lugar, ecoando, caindo no largo, como as folhas no outono.

01.09.25

Aos olhos do gato ...


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Não há velhos sentados nos bancos de pedra, no largo da aldeia. O miar do gato não é pacífico, saí-lhe da parte mais profunda do ventre. Faz saber no largo, a insatisfação pela insensibilidade da ausência de calor. Na aldeia o frio  sobrepõe-se cada vez mais ao entusiasmo, neste lugar. A impaciência do gato é audível na biblioteca ambulante, perturba as personagens das histórias. Não há leitores para os ler, o ar frio está vivo e forte na aldeia. A aldeia é um assento de pedra, frio, sem encosto. É preciso travar a indiferença com uma almofada para o assento, um recosto para a cabeça, ou mesmo um travesseiro, para se estar refastelado comodamente. Assim o gato deixa de miar, aproxima-se, enrosca-se nas pernas, salta para o colo a pedir carinho no costado. A sombra da tília cobre a totalidade da biblioteca ambulante, os gatos nesta aldeia, não se deixam ver, não ouço miados, só o vento faz barulho, interrompendo o silêncio. Atravessando no meio da árvore, arrebatando as folhas de um lado para o outro. As nuvens expressam-se de forma variada, obras, inspiradoras, literárias, aos olhos do viajante das viagens e andanças. Aos olhos do gato como serão, estará tentado a lambe-las, marcando-as como sua propriedade. Ou amassando-as para lhes extrair histórias, das aldeias onde passam. A curiosidade leva-o a escalar até alcançar a nuvem mais próxima. Abrigar-se para um sono retemperado, sair da aldeia, como outros o fizeram, em busca de afecto, de uma vida mais intensa.

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