Morreram, trabalham longe da aldeia...
historiasabeirario

O dia corre abatido, como as águas do rio, pardacentas, a passarem debaixo da ponte. Passagem usada pela biblioteca ambulante nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. Até a aldeia parece moribunda, se não fosse o vento a agitar as folhas das árvores, diria que estava perante um cenário de um filme, onde personagens, e figurantes, aguardam pelo retomar das filmagens. As paredes brancas das casas, dos muros, são a única cor, um sinal, que não estão abandonadas, têm gente que não se vê. Espectros, aparências falsas, pessoas simples, que não se deixam observar. Morreram, trabalham longe da aldeia, saem cedo, regressam tarde, sombras na noite, habitantes da aldeia. O cantoneiro empurra o carro que contem os baldes, onde deposita o ruído da aldeia, as palavras que não consigo ouvir, as vozes escondidas pelo silêncio. Olha admirado para a biblioteca ambulante, para mim. O meu olhar é igual ao dele, no carro que impele, no rosto surpreso. Figurantes inesperados no filme que tinha tudo para ser real, com leitores, a pesquisarem autores e títulos na biblioteca ambulante. Pessoas atravessando o largo, o café Areias com clientes, as saudações dos transeuntes ao viajante das viagens e andanças, as conversas de circunstância, automóveis transitando de uma ponta à outra da aldeia. Atravesso a ponte sobre o rio, lá em baixo as águas encalharam nas pedras, na areia, os barcos há muito que se foram, as pessoas nunca as conheci, não me lembro dos seus nomes.










