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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

13.Nov.23

Já estou a ver as folhas...

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O dealbar do primeiro dia da semana nas viagens e andanças trouxe temperaturas amenas à charneca, e às aldeias da minha terra. Voltei a ver as pessoas nas ruas destas pequenas povoações, a caminharem pelo campo, exercitando o corpo cada vez mais preguiçoso à medida da passagem dos anos. Continuam a insistirem em dar pancadas fortes na tranquilidade de uma oliveira, símbolo de sabedoria, de paz, de glória e abundância na Antiguidade. Já estou a ver as folhas serem sacudidas na (...)
10.Nov.23

O caderno está longe...

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Um traço cheio de cor atravessa o vale na direcção da aldeia, acompanha a linha de água sem a deixar ver o céu. Os majestosos choupos ostentam uma aparatosa folhagem de cores outonais, impondo a quem por aqui passa a sua observação. A biblioteca ambulante confunde-se, um risco colorido a desenhar histórias, pessoas e leitores nas viagens e andanças pelas aldeias. O caderno está longe de estar preenchido, mas tem obras produzidas,  pela curiosidade, pelas emoções, pela (...)
09.Nov.23

Continua-se a aprender na velha escola...

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Trago comigo os  sabores dos enchidos, os odores das castanhas assadas, das histórias narradas ao redor da mesa grande.  Continua-se a aprender na velha escola em Alferrarede Velha,  a viagem não terminou, uma vez por semana, quando voltam, tropeçam na meninice passada na sala de aula. As castanhas assam-se num forno eléctrico, não há lugar para a fogueira do costume. Nem assim deixa de ser um magusto, só para não se perder no tempo a celebração do dia de São Martinho, (...)
08.Nov.23

As palavras não se afundam...

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A chuva afoga a esperança no aparecimento de leitores, dilui o sangue na vida da escrita. Afugenta as pessoas, mascara os pássaros entre a folhagem espessa, inunda a tarde das viagens e andanças. As palavras não se afundam, são bóias, salvam vidas, inimigas da solidão, e companheiras do silêncio. A chuva a cair em cima da aldeia, bem podiam ser as letras asfixiando tudo e todos. Quem não souber nadar fica sábio, quem sobreviveu, permanecerá num deserto carecido de  emoções.
07.Nov.23

O trilho continuava pela charneca ...

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O rebanho, com as ovelhas colocadas umas seguidas às outras, acompanha o trilho a uma clareira rodeada por grandes sobreiros. As primeiras a chegarem estão com o focinho fixado na erva molhada que  ocupa o espaço junto à estrada que dirige a biblioteca ambulante na direcção da aldeia da Foz. Observei a sofreguidão dos animais a devastarem a  pastagem,  uma página enorme onde as letras sumiam umas atrás das outras. Tal não era a voracidade empregada na leitura, (...)
06.Nov.23

Capturam as histórias ...

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Envergonhado, o sol, lá apareceu para dissipar as brumas e aquecer um pouco as aldeias da minha terra. Duas mulheres disputam entre si os mexericos importantes que cada uma tinha a revelar, depois de alguns dias afastadas do escasso meio social da aldeia. A chuva, a colheita da azeitona, ocupou grande parte da semana que passou, impediu os aldeões de se concentrarem uns nos outros. A tarde acanhou o sol, o frio nas aldeias do norte faz com que o fumo se escape pelas aberturas das (...)
31.Out.23

Não lhe comprei botas ...

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Um gato afastou-se rapidamente, quando avistou a biblioteca ambulante a entrar no espaço do estacionamento habitual em Casais de Revelhos. Fiquei desapontado por o ver tão apressado a deixar o sítio onde as histórias terminam a primeira viagem da tarde. Não quero acreditar que o  gato saiu disparado para avisar os leitores da presença das histórias na aldeia. Não lhe comprei botas, nem sequer um saco, só faltava agora o gato pôr-se por aí a caçar coelhos para ir aliciar os (...)
30.Out.23

Aqui não há lavadeiras ...

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Parece-me que a chuva arrumou a trouxa e foi de vez para outras paragens. A névoa, presente, impede a observação do rio adormecido no amanhecer, no leito, há muito que desapareceram vestígios da sua navegabilidade. Nem uma âncora de memórias, visível, há para relembrar um passado rico em navegação e comércio. As passagens frequentes da biblioteca ambulante sobre este, na ponte que une as duas margens, permite ao viajante das viagens e andanças, avistar antigas indústrias (...)
27.Out.23

A gratidão ainda é um reconhecimento ...

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Farinha sem fermento (2Kg), azeite (1l), mel (500ml), açucar amarelo (1Kg), nozes (200g), erva doce e canela. Esta e outras fórmulas de ingredientes para fazer histórias doces trazidas do passado através da oralidade, escritas em papel, à pressa, para não se perder pitada. Tesouros açucarados a espreitarem a luz do dia sempre que há celebrações, é o caso das broas com a aproximação do dia de Todos os Santos. As substâncias são amassadas energicamente por mãos experientes, (...)
26.Out.23

Deslizo numa embarcação ...

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Não há armistício, a chuva cai ininterruptamente em Martinchel, as histórias nas estantes estão quietas e mudas. Como eu, não arranjam palavras para tanta água, e leitores que as leiam. A estrada transformou-se num longo ribeiro, a biblioteca ambulante, numa jangada de histórias. Neste pequeno curso de palavras não temo um naufrágio nas páginas do oceano, no qual irão desaguar as histórias desta armação feita de criatividade. Deslizo numa embarcação construída por (...)