Perdi a liberdade De caminhar e frequentar espaços públicos Perdi a liberdade De estar com a cara destapada Perdi a liberdade De realizar as viagens e andanças Perdi a liberdade De visitar as aldeias da minha terra Perdi a liberdade De dirigir a biblioteca ambulante Perdi a liberdade De dar histórias de encantar De dar histórias de sonhar De dar histórias de chorar Perdi a liberdade De falar com gente com quem gosto de dialogar Perdi a liberdade De voar De me realizar
O sol impiedoso sufoca quem permanece debaixo da sua grandeza, assim sem mais nem menos transpusemos o inverno, a primavera ainda vigora mas só no calendário, não se deu por ela. O vírus ofuscou tudo, é ele que comanda a continuidade da nossa existência, estamos perante uma ditadura bacteriana global.
O inverno não se esqueceu de nós, o dia de hoje é um exemplo disso mesmo, um retrocesso que não é mais que um aviso. Não andem por aí trajando roupa fresca, ao saírem de casa tragam um casaco, um blusão para se agasalharem se for caso disso. Não prolonguem o afrouxamento na defesa pessoal em relação ao organismo que por aí viaja sem se deixar ver. Estimulem os sentidos manuseando páginas de histórias nunca lidas, que há bastante tempo se encontram nas (...)
Primeiro nevoeiro, a seguir o sol, foi a vez da chuva, agora a trovoada, falta o vento e neve, a qual me lembro só assisti à sua queda por aqui uma duas vezes, para completar estes fenómenos naturais. Nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, muitas vezes fui apanhado desprevenido por qualquer um deles, houve dias que a roupa que vestia era insuficiente para me proteger. Enfrentar o frio com agasalho primaveril, estorricar ao sol, acolhido em (...)
Noutra semana a ver fugir o tempo, e a ininterrupção da chuva a tornarem as palavras repetitivas em relação a escritas do passado. As oportunidades que não se conseguem recuperar de viagens e andanças já não têm conto, para trás ficaram histórias para dar, gente por conhecer, leitores por agradar e conquistar. Não sei mais a quem recorrer, a inoperância contrasta com o sentimento de querer fazer mais alguma coisa em relação à itinerância das histórias. A (...)
O tempo e a memória se não são gémeos andam quase lá, pois não se pode dissociar no meu ponto de vista um da outra. Não há muito tempo, mais ou menos quarenta anos atrás, frequentava muitas vezes, mais do que uma vez por semana salas de cinema, cine-teatros, vendo filmes. Muitos deles sem qualquer mecanismo publicitário relevante, sem por isso ter menor qualidade, pelo contrário muitas surpresas a nível de realização e desempenho de atores à época jovens e atualmente (...)
O dia acordou cheio de incertezas quanto ao seu desfecho, tanto pode desabar um aluvião de água, ou um qualquer raio de sol despontar, afastando toda esta mortalha que cobre este bocado de terra. No rio, as águas estão paradas, cheias de interrogações, os homens já nem se debruçam sobre elas, não querem ver espelhados os rostos tapados por máscaras, com vergonha de terem consentido que o mundo se tenha definhado perante um vírus. Há muito que o universo andava (...)
O desgaste do tempo, onde se pretende que se faça acontecer, mas que na realidade deixa muito por fazer acontecer. É o que sinto nestes dias em casa no teletrabalho, acontecimentos, assuntos que podiam estar a ser concretizados, histórias que dão prazer e alegrias, se estivessem nos lugares e aldeias das viagens e andanças. Mas não acontece nada disto, nas aldeias os velhos estão ainda mais companheiros da solidão, aconselham a que fiquem em casa, não se podem aproximar (...)
Depois de um domingo anormal, num tempo de aberração, o dia de hoje amanheceu com a ausência do sol no território das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. Num ambiente de cinzento carregado, destacam-se as flores amarelas, teimosas, envolvidas na cor verde das ervas sôfregas, que despontam no horizonte. Na estrada, a mítica nacional 2, a quantidade de viaturas é mais significativa, o barulho dos motores consegue sobrepor-se à cantoria das aves que (...)
Será que o pior ainda está para vir? O fim do confinamento está aí à porta e não só, em muitos lugares a liberdade tomou iniciativa, basta presenciar a quantidade superior de automóveis na estrada a transitar, as pessoas com máscaras colocadas são cada vez mais nas ruas das cidades. A primavera tem-se exibido envergonhada, mas não será sempre assim, o sol quando consegue enganar as nuvens que o tapam liberta energia suficiente para podermos trajar roupas mais frescas, (...)