A chuva apareceu na aldeia das Bicas, no período da tarde, envergonhada no início, tornando-se imperturbável no resto das viagens e andanças. Uma leitora aproximou-se, abri o vidro, não me deixou falar, informando a causa da ausência das histórias para devolver. Não sabia da presença da biblioteca ambulante na sua aldeia, hoje, como irá acontecer com outros. A falta de comparência das histórias, a inexistência do horário, e dias da paragem, da biblioteca ambulante nas (...)
O campo está fulgurante, não são demais as pequenas gotas, luzes brilhantes que o enfeitam de manhã, sob o olhar atento do sol, a estender os braços, tentando abraçar a charneca toda de uma vez. Implicando os aldeões saírem das suas casas, aquecerem os ossos velhos no limiar das portas, os leitores dirigirem-se à biblioteca ambulante. As cores amarela e branca, salpicam as planícies entaladas nas esplanadas naturais, onde, grupos de animais, uns mais numerosos que outros, (...)
O vale é uma página aberta a pedir que compareçam na biblioteca ambulante, a escreverem na terra as palavras que darão resultados. Consequências da leitura, do amadurecimento das pessoas que não viram as costas às histórias. O sol impõe-se lentamente, perante as ameaçadoras nuvens negras que não desistem de o apagar. São apenas reparos, nunca deixaram de avaliar, a escrita, as observações, a crítica mordaz. São ondas no céu, tripulantes perspicazes na demanda das (...)
A alergia aos pólen trata-me com despeito, ainda agora está no início, se bem que, indistintamente a primavera ande por aí, nas aldeias da minha terra. Também a biblioteca ambulante regressou, mostrando-se vagamente, após um intervalo longo. Demais para os leitores, para o viajante das viagens e andanças. Infelizmente a leitura continua no segundo plano, nas decisões, na determinação de objectivos. Um desarranjo no maquinismo da porta grande, impediu esta de visitar as (...)
A alvura da tarde na aldeia de Martinchel, deve-se às histórias a cintilarem, perante a perspectiva de aparecerem leitores. São eles as estrelas nas viagens e andanças, as histórias salientam-se ao vê-los, impressionando-os com a magia das palavras, com os inimagináveis personagens ao longo das páginas. A biblioteca ambulante, não é mais que uma estrela cadente, sobre as aldeias da minha terra, anunciando a boa nova, o início de uma leitura, da vida independente, a lerem com (...)
A aldeia mostra fragilidades com o envelhecimento das pessoas, parece agastada. No Brunheirinho excetuando duas mulheres à entrada da mesma, olhando surpreendidas a passagem da biblioteca ambulante. Até ao momento, o merceeiro a buzinar a sua carrinha, não se fez ouvir. Talvez se tenha antecipado ou andará ainda por outros lugares próximos a negociar os produtos alimentares. Sem ele seria difícil a muitas destas pessoas deslocarem-se para adquirirem tudo o que serve para alimentar. (...)
Os prados verdes são as folhas onde os homens nas aldeias escrevem as páginas das suas vidas. Obras literárias que alimentam a imaginação daqueles que nunca saíram das grandes cidades. Lêem, saboreando com curiosidade cada palavra nas páginas, escritas pelos homens das aldeias da minha terra, nas folhas. Sentem a liberdade que não têm na cidade, sempre que as apreciam. Soltam-se os odores, fumegam no espaço das refeições, alegres, tristes, solitários, oriundos da leitura, da (...)
O orvalho não deixa espaço para o tapete verde mostrar toda a sua beleza na charneca. A terra finalmente transpira de cansaço por ter ultrapassado o calor dos meses anteriores. Terminaram os dias de suplício, regressaram os textos, as viagens e andanças pelas aldeias da minha terra, frias, rudes, como o coração dos homens, ausentes no progresso destas. As chaminés sempre a vomitarem fumo, os velhos aquecendo-se ao sol, no início dos dias, nos finais dos mesmos. Dias curtos, para (...)
Na aldeia da Amoreira as nuvens tiraram o sorriso que a manhã mostrou desde o seu início. A perda da expressão facial desta, não dificulta os seus habitantes de exporem à vista do bibliotecário da biblioteca ambulante, pessoalmente, o seu sorriso, a saudação, com um gesto da mão, ou erguendo um braço, ao passarem próximos das histórias. Não frequentam o espaço onde a criatividade está presente, de braços abertos, a quem queira conhece-la, ficar íntimo, ou mesmo (...)
O tempo anda apressado, talvez seja o presente a perder robustez, apesar da continua passagem dos dias, nas viagens e andanças. A aldeia do Tubaral é uma daquelas que deixou de ter tempo para os leitores se aproximarem da biblioteca ambulante. Perde população, não há esforço para leituras, será causalidade, sempre que as histórias a visitam, a aldeia desmaia. O ânimo, as mulheres que aguardavam a carrinha da padeira, desapareceu para sempre. O largo perdeu alegria, as vozes (...)