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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

08 Set, 2023

Lambem os dedos ...

O primeiro olhar pelo jornal é igual ao que fazemos perante uma vitrine repleta de bolos. Perdemo-nos na variedade de palavras, as massas, as texturas, os recheios, um conjunto de cores e sabores para lermos em casa, no sofá, seguir as frases umas a seguir às outras. Ler é importante, estar informado ainda mais. A assiduidade da biblioteca ambulante nas aldeias, promove, sem os leitores notarem, hábitos de leitura. Os gestos, a paixão de olharem para as palavras, viajarem pelas (...)
O vento entra com ímpeto na  biblioteca ambulante, a frescura que o acompanha alivia o viajante das viagens e andanças. Ventila as histórias mais empoeiradas pelo debilitado manuseamento das mesmas por parte dos leitores. Demasiadas ausências neste mês, não estão na lista das favoritas dos leitores, ficam sem se mexerem, abandonadas nas estantes, órfãs. Adoptadas são aquelas badaladas nas televisões, nos meios de divulgação, criadas por escritores famosos, quase nunca (...)
11 Ago, 2023

O gato leitor ...

Os automóveis observados no retrovisor lateral da biblioteca ambulante a transitarem na auto-estrada, somem-se rapidamente, são como lermos histórias sem pregar o olho numa noite. São  veículos potentes, circulam depressa, as histórias merecedoras de atenção, são lidas apressadamente, para chegarmos ambos ao destino o mais rapidamente possível. Nos primeiros a vontade de cumprirem horários, estarem nas suas cidades, em casa, após um dia de trabalho. Viajarem para o litoral na (...)
  Seleccionar um livro, uma revista, objectos com informação, incluindo os audiovisuais, tem o seu tempo. A biblioteca ambulante terminou a viagem de escassos oito quilómetros na prolongada autoestrada A23, de uma aldeia para outra, um luxo este acesso alternativo, sem sobrecarregar o estado com automatismos de portagem. São aproximadamente sete minutos onde as histórias vão em segurança e sem alarmismo de fugacidade. Neste período de tempo na biblioteca  ambulante, há leitores (...)
Apostaria a leitura de meia dúzia de histórias em cada mês do verão, para isso acontecer a temperatura atmosférica não ultrapassaria os 30º Celcius. Hoje a cor azul do céu dissolveu-se no pano cinzento, a poucos dias de se abrirem as portas ao estio, há muito anunciado como um dos piores, seco e quente. Dante Alighieri nos seus melhores dias nunca imaginou que o conceito do seu Inferno poderia acontecer, ser adaptado, no futuro, aos dias de hoje, nas aldeias da minha terra, (...)
A bengala ampara a estrutura física, a história um argumento portador de estímulo. A velhice não é sinónimo de interrupção, a caminhada continua a realizar-se, mais limitada indubitavelmente. Na companhia dos objectos certos, pode-se avançar no tempo, viajando, a perdurar memórias nas histórias vividas, mesmo as impressas, escritas por viajantes que nunca desistiram de percorrerem extensas planícies desertas, ou colinas de páginas brancas movendo-se pela acção do (...)
O verão é um príncipe e agora quer usurpar o reinado da rainha primavera, a história tem-nos mostrado episódios iguais com o passar do tempo. O suspeito, homem, interferente na divisão que enquadra seres e coisas, está a mudar a forma como sempre conhecemos as estações meteorológicas. A biblioteca ambulante permanece na aldeia de Sentieiras, são onze horas e vinte e dois minutos e estão trinta graus celcius no termómetro, os leitores chegam a protestar da temperatura (...)
Outro dia com as mesmas histórias a serem lidas em aldeias diferentes a norte e a sul. A ponte, estrutura importante para transpor o rio Tejo, dá acessibilidade à biblioteca ambulante, há vizinhança que habita em ambas as margens. Há sempre histórias verdadeiras para trazer, da feira anual de Alvega, dos vestidos de seda estreados por cada uma nesse dia. Arrumados nos roupeiros, não os perdiam de vista nos dias que antecediam a feira, prognosticando como lhes assentariam no (...)
O nevoeiro esconde os automóveis nos oito quilómetros da autoestrada A23 que a biblioteca ambulante percorre sempre que o itinerário reclama. Cada um transita na sua bolha sem ter hipótese de avistar os que vão à frente ou vêm na traseira, ou mesmo a superar-nos na faixa da esquerda. Com a leitura é quase o mesmo, as histórias à mão de semear em cada aldeia, e há quem caminha próximo sem qualquer curiosidade de espreitar. Vão apressados, ultrapassam sem assinalarem a (...)
26 Dez, 2022

Estão folgados ...

O dia amanheceu frouxo, poucos automóveis na estrada, a ausência de pessoas nas ruas, possivelmente a recuperarem dos últimos dias de festa, receando talvez a chuva aproximando-se. Na aldeia estas hipóteses não têm pernas para andar, na exígua esplanada do estabelecimento os homens sentados estão animados, seguram as minis como quem agarra um troféu, e quanto maior for a sequência destes levantamentos direccionados à goela, mais vencedores são. Hoje não querem saber de (...)