De regresso à estrada, nas viagens e andanças com letras, tirando vantagem da chuva que não cai. As histórias espreitam a estrada, iludidas pelos automóveis que transitam lhes dêem oportunidade de uma boleia. Na beira da estrada as páginas agitam-se fortemente, abanando nos dois sentidos, dando força à pouca intensidade da leitura. Mesmo assim nenhum abranda até parar, agigantam-se para que as vejam, sem sorte. Os ocupantes vão concentrados, não notam as palavras desprendidas (...)
O resguardo que a manhã trouxe com as nuvens favorece a temperatura delicada que se faz sentir. Assim estão os leitores na relação com a biblioteca ambulante, da presença destes à ausência, uma linha frágil os separa das histórias. Os pingos da chuva mais grossos, asseguram a veracidade do que acabei de escrever, é complicado não ter leitores, as histórias ficam abandonadas. Não há agitação, diálogos, ficamos vazios, ignorantes no vínculo que construimos, com sede da (...)
A porta escancarada para o antigo acesso que levava água, memória de um passado muito distante, não significa que os desejos às acessibilidades sejam espontâneos. Neste momento, há passagens para quem queira desfrutar de outras águas que matam a sede de conhecimento. Difíceis de derrubar, as portas para alguns resistentes, continuam difíceis de concluírem a façanha de iniciarem o desafio na corrente das letras. Contornar os declives os meandros, evitando areias no leito (...)
No regaço do bairro as histórias tentam abrigo nas fracções dos prédios que preenchem o que foi em tempos, hortas, olival e mais para trás o local onde existiu um convento. Saíram os monges, voltaram outros, famílias encaixadas umas nas outras que não dão importância às histórias que os informam da importância histórica do lugar. São poucos os que desafiam as palavras, entram no café, sentam-se na pequena esplanada defronte da biblioteca ambulante e não se passa nada. (...)
Há momentos em que o vento dá guinadas, como se estivesse a ser conduzido por alguém desorientado na direcção que tomar. Não sei se fecho as portas, se mantenho só uma aberta, e destas a qual, a da retaguarda ou a lateral da biblioteca ambulante. Neste período são as folhas que voam, as revistas empurradas violentamente do escaparate, a ventania está insuportável. A imprevisibilidade da meteorologia do dia é semelhante à vinda até às histórias de leitores, até ao momento (...)
O sol não expressa compaixão pelos mortais esta tarde na aldeia da Casa Branca, no interior do café um grupo de aldeões, na sua maioria homens, aproveita para emborcar umas quantas minis frescas. Se pudesse também estaria com eles saciando a sede, conversando, tomando conhecimento do quotidiano da aldeia. Saber mais sobre a cultura hortícola, o que está germinando, os legumes que estão acabados e prontos para serem colhidos. Neste lugares afastados onde se pratica agricultura de (...)
O coaxar das rãs é o que mais se ouve no lugar curiosamente apelidado de Vale de Rãs nas viagens e andanças com letras de hoje. As roupas frescas sairam dos roupeiros e gavetas para voltarem a trajar as pessoas que não quiseram faltar à chamada da manhã primaveril. Sorridentes, falam em voz alta umas com as outras, olham para a biblioteca ambulante, infelizmente não mostram interesse pelas histórias. Algo que não preocupa o viajante das viagens e andanças, bem os compreendo, (...)
A tarde está embaciada, parece adoentada, que aflição será esta que assola as aldeias da minha terra? Os leitores estão entrincheirados nas suas casas, as pessoas não se deixam ver, na Lampreia só a natureza está activa, o seu timbre é magnífico, só mesmo as melodias da orquestra silvestre me fazem estar atento. Já perto do destino final de outro dia de viagens e andanças com letras, noutra aldeia, a biblioteca ambulante e as histórias aguardam melhor sorte, ou seja (...)
Nos meandros das ruas encaixadas entre prédios, cujas varandas apresentam roupa estendida, a biblioteca ambulante explora vestígios, deixados propositadamente, que marcam a época que vivemos, nesses lares. Para lá das portas, exceptuando o que acabei de descrever, as histórias serão assim como mostram as árvores de Natal. As luzes que não estão ligadas, mas quando a noite cai apressada como sempre nestes dias, ganham vida confirmando que afinal está tudo bem. As histórias que (...)
Do alto, nas varandas abespinham olhares de curiosidade, na direcção da biblioteca ambulante. Em baixo, na esplanada, as mulheres sentadas lêem as revistas e jornais que o viajante das viagens e andanças lá colocou. Imediatamente os diálogos direccionaram-se para as páginas folheadas cheias de vontade. Pouco depois deixaram-se de ouvir, a leitura conquistou--as, afastado presencio a magia das letras, perseguidas pela vista, gerando palavras sem fim.