As aldeias a norte do território, situadas entre os rios Zêzere e Tejo, continuam na obscuridade, cenário ideal para histórias empolgantes, daquelas em que o cansaço durante a leitura tarda ou nunca surge. O filme ou a história da biblioteca ambulante, personagem secundária a percorrer caminhos no centro da névoa, da floresta tanta vez transformada em espectro, técnica utilizada na indústria do entretenimento, uma película onde as pessoas têm os papeis mais valiosos, (...)
A manhã está deprimida, o silêncio esfriou, a luz do sol atravessou um trecho de chuva que caía. Um momento mágico a insinuar o casamento das histórias com os leitores. O namoro vai longo está na altura de se completarem, alguns há muito que sonham com a chuva e o sol ao mesmo tempo, vincularam-se para sempre. Estão dependentes das histórias e da biblioteca ambulante, as duas juntas são exemplos como o do fenómeno natural, ligadas a perpetuar saberes através da magia das (...)
A chuva que está desabando na estrada podiam ser palavras, uma compilação de escrita, de oralidade. Simultaneamente a neblina não consente muita visibilidade, mais parece um mata-borrão a estancar a água escorrendo em todo o lado. Esta torrente tem um sentido, formam-se palavras apressadas, as próximas ou incompatíveis umas com as outras, todas galgam a charneca aos trambolhões na mesma direcção. Todas querem chegar umas à frente das outras, uma corrida desenfreada para (...)
Somente o sol parece ser presença assídua nesta manhã, a luz que irradia enche o largo na aldeia, criando figuras no alcatrão quando os raios são interceptados pelos cabos aéreos. Linhas que cruzam, levam e trazem palavras amarradas, aldeias caladas, amedrontadas pela solidão. Há sempre um momento que escapa ao afastamento, a hora exacta em que ouvem a buzina ensurdecedora da carrinha que traz o pão, imediatamente saem de casa na direcção do padeiro, de olhar ligeiro e (...)
A primeira semana de Setembro trouxe vestígios de chuva, o Outono a querer afirmar-se naquele que está a ser um ano privado de água. Não passa de uma pequena indicação, as terras continuam secas, só as nuvens cruzando o céu não são as mesmas. Aproximam-se e fogem logo, brancas, cinzentas, unidas na cor não deixam cair uma pinga de água. A circunstância feliz são os homens da escrita, cujas canetas nunca deixaram de libertar a tinta que enche a torrente de palavras que vai (...)
Há festa na aldeia, no Souto os preparativos avançam na montagem do palco que irá receber os artistas. Entre diálogos animados, gargalhadas à mistura, idas ao bar da associação para matarem a sede, debaixo do sol que já expressa tirania, andam voluntários, quem pertence à comissão organizadora da romaria, de tronco descoberto, transportando aos ombros compridos tubos. As alvenarias que cercam as casas à beira da rua que leva as pessoas à festa, caiadas de um branco (...)
A manhã está refém das nuvens cinzentas, destacam-se as ervas secas, carregadas de um amarelo forte, o contraste é bonito de se ver ao longo da estrada que leva a biblioteca ambulante. Só a chuva se ouve a bater fortemente, as histórias estão assim sequestradas pela intempérie na aldeia da Atalaia. Os leitores que gostam de ler na praia fluvial, ou debaixo do telheiro ao final da tarde ao mesmo tempo que se refrescam com uma cerveja, não virão com esta massa de água a (...)
A chuva regressou, com a temperatura a recuar hoje de manhã na aldeia do Souto. As folhas das árvores um pouco agitadas perante a incredulidade do tempo, e o som melodioso do canto dos pássaros são únicos no largo onde está a sede da Sociedade Recreativa e o Centro de Dia da aldeia. Ninguém atravessa o lugar, a curiosidade não os despertou, como aconteceu noutros momentos, na presença da biblioteca ambulante. Advinho que as histórias não vão ter o calor das mãos dos leitores (...)
Aproveitando a sombra da árvore, na companhia das sardinheiras, flores que dão o mote na primavera na cidade de Abrantes e aldeias da minha terra. As viagens e andanças ficam ornamentadas, as histórias estão mais cheirosas, a biblioteca ambulante um canteiro. Está composto o ramalhete para que o dia tenha leitores, (...)
A transparência da manhã está a terminar com a chegada do manto cinzento a cobrir a totalidade daquele que seria um dia brilhante. Na rua, duas mulheres conversam junto do mercadinho da Ilda, outra que por aqui passou, próximo da biblioteca ambulante, meteu conversa, os casos de covid, a guerra da Ucrânia apoquentavam-na, ambos estão a estragar o resto dos anos que lhe faltam. As pessoas andam atentas, vêm e ouvem notícias, perderam a desconfiança, entram na biblioteca, escolhem (...)