O sol é o amigo, o confidente, o que estimula os ossos velhos, do homem que vê passar os veículos na estrada. Parece o título de uma história escrita por Georges Simenon, a diferença, está na via e no meio de transporte, todas as vezes que a biblioteca ambulante se demora na sua aldeia, vejo-o sempre de olhar perdido na sua estrada favorita. A única, possivelmente que observa. Também sabe onde estão, onde foram, os que por qualquer razão não se conseguem encontrar, sentado, (...)
As viagens e andanças com letras dissipam-se na névoa obstinada, as palavras das histórias diluem-se na água da chuva. A tarde, assim é um romance inacabado, uma história incompleta, faltando-lhe o derradeiro capítulo. A parte onde alcançaríamos o prazer da leitura, a fatia de bolo desejada por todos. O desenlace não vai acontecer, todas as palavras escritas para o expandir, afogam-se nas lágrimas dos personagens, na última parte da história. A guerra, o excesso de poder, (...)
O sol quente bate-me nas costas, vestígio do verão de S. Martinho, há uma mistura de roupas usadas pelas pessoas a deambularem na fuga que a estrada faz junto ao café. Uns trazem na cabeça gorros de lã, na esplanada, trajam camisolas com manga curta, bebem minis frescas, têm por companhia os tremoços e amendoins. Chegaram mais, combinam a presença num evento automobilístico, a conversa entre eles concentra-se nos automóveis modificados, Tuning. Imitam sons de motores, estão (...)
Parece-me que a chuva arrumou a trouxa e foi de vez para outras paragens. A névoa, presente, impede a observação do rio adormecido no amanhecer, no leito, há muito que desapareceram vestígios da sua navegabilidade. Nem uma âncora de memórias, visível, há para relembrar um passado rico em navegação e comércio. As passagens frequentes da biblioteca ambulante sobre este, na ponte que une as duas margens, permite ao viajante das viagens e andanças, avistar antigas indústrias (...)
Continuam a olharem a biblioteca ambulante, como uma extraterrestre, o E.T. vulgarizou-se após o filme produzido e dirigido por Steven Spielberg, em 1982. As bibliotecas sobre rodas já anunciavam histórias de seres oriundos de planetas desconhecidos, nos acervos que transportavam nos regaços. As naves voadoras, sem medo de penetrarem nos territórios fechados ao conhecimento, quando avistadas causam espanto, admiração e estranheza pelo seu aspecto, quantidade de livros, a missão (...)
Estou na aldeia da Lampreia, não se vê ninguém na rua, excepto quem abre ou fecha o portão grande de cor azul, situado do lado oposto da estrada, ao local onde me encontro. As entradas e saídas foram algumas, pensei que as pessoas da aldeia estivesse todas ali, na quinta, guardada por muros pintados de azul e branco. Não consigo vislumbra-las como quero, são rápidas a entrarem nos veículos. O sol e o vento são os únicos a visitarem a biblioteca ambulante, envolvidos na rua (...)
Têm sido uns dias difíceis a estabilizar leituras, estar ao mesmo tempo nos lugares planejados e nas aldeias onde faltou a leitura no tempo certo. Para trás ficaram aldeias sem fim, pessoas felizes, por finalmente conseguirem as histórias tão desejadas. Não foram oitenta dias à volta do mundo, mas três dias (ainda não terminaram) a circular pelas aldeias da minha terra numa inquietação nunca antes interpretada pelo viajante das viagens e andanças. Júlio Verne não teria (...)
As Festas da Cidade de Abrantes terminaram, com elas a falsa ilusão de um núcleo antigo habitualmente cheio de pessoas. A biblioteca ambulante está na estrada, nas aldeias da minha terra outra vez, as tílias com os odores das suas flores, o chilrear dos pássaros, enganariam aqueles que lêem estas crónicas se fosse possível ao mesmo tempo inspirar e ouvir o ar e o meio envolvente. Julgando eles que estariam no campo, quando na realidade as histórias se encontram situadas dentro do (...)
A tarde sufocante não inibe os leitores de virem à biblioteca ambulante, ler o jornal, ou encontrarem alguma história onde se possam abrigar da provável chuvada que cairá muito antes do viajante das viagens e andanças dar por terminado o dia. A luz brilhante borra a imagem, sem distrair os leitores empenhados em descobrirem histórias e palavras, bem podiam ser, guarda-chuva, sombrinha, ou umbela, impermeável, gabardina, para-raios e outras relacionadas com o que aí vem. As (...)
Na Casa Branca o local habitual da permanência da biblioteca ambulante esteve ocupado num espaço de tempo prologando, o viajante das viagens e andanças agarrou o lugar com o olhar não fossem os leitores surgirem e não visualizarem as histórias. Os automóveis enchem o espaço junto ao café, suponho os seus proprietários no interior deste, a esplanada acolhe alguns. Ainda me olham como um estranho, a primeira impressão que se tem das pessoas daqui é a rudeza, depois tudo (...)