As azeitonas estão pretas nas oliveiras, o fumo das chaminés foi denunciado pelo odor que não deixa ninguém indiferente. A tarde amena não aguenta o fogo da lenha a arder nas lareiras, o frio não se impôs para tamanha ousadia neste outono chuvoso. Os ossos dos velhos não resistem à queda das folhas, eles e as árvores necessitam de energia, à noite a determinação da temperatura não é a mesma, persuadindo o frio a despertar. As lareiras passam a ser as rainhas das (...)
A dinâmica que um jornal exerce em quem o lê impressiona, a leitura emparelhada, comentada em simultâneo entre o folhear teimoso das páginas sem força para enfrentar a suavidade da aragem. A leitura não lhes diz nada, as histórias nunca conseguiram atrai-los, mas o jornal, a descrição do movimento que a bola leva, a finta, o passe, o remate e o golo. É o mundo deles, ouvindo-os, percebo que são jogadores de palavras, de certezas, jogam melhor que os intervenientes do artigo de (...)
A sombra da oliveira não se estende o suficiente para proteger as histórias da atroz temperatura do sol. Os dias nas aldeias da minha terra nesta época do ano são quase sempre infernais, só a resiliência de alguns leitores, atenuam o calor bravio. É por eles que a biblioteca ambulante consome o alcatrão das pequenas estradas que levam as histórias. Também o é pelos outros que a espreitam, ainda sem afoiteza para se aproximarem, a curiosidade é evidente. Todas as vezes que a (...)
Mata-se a sede, exploram-se as novidades da aldeia, tudo isto a acontecer sob o olhar das histórias na biblioteca ambulante. Dispostas nos seus lugares, as histórias ambicionam que os homens se juntem no espaço onde estão, muito mais há para conversar. Aqui conseguem ir para além da aldeia que os viu nascer, partir e acolher definitivamente, tantos foram os anos afastados da mesma. Assuntos que os porão a falar uns com os outros diariamente, conhecerão pessoas, cidades, aldeias (...)
A manhã vai adiantada e os homens sentados debaixo da sombra de um chapéu na esplanada do Mercadinho da Fonte, não se engasgam no mata-bicho. Deixei-os a ler os jornais, assim fazem uma pausa, direccionei-os para a actualidade que nos rodeia. A biblioteca ambulante sempre que estaciona na aldeia das Sentieiras nunca se sentiu órfã de leitores, são sempre as mulheres que ganham aos homens na leitura, nunca chegam a completar os dedos da mão, nas aldeias da minha terra, eles pegam (...)
Não fosse a copa da velha oliveira proteger do sol, o viajante das viagens e andanças não suportaria o vigor da temperatura que se faz sentir. A esplendorosa tarde afugentou os leitores, o abatimento hoje é superior ao de ontem. Embalado pelas melodias silvestres que escondem dúvidas do que acontecerá se o estado do clima se mantiver teimosamente sem pluviosidade. Os leitores possivelmente estarão encalhados nalgum lugar, não têm vontade de ler, ocupados a preencher os canteiros (...)
Texto e ilustração acerca de uma oliveira milenar nas Mouriscas, aldeia visitada pela biblioteca ambulante. Um reconhecimento de que é possível ao homem preservar o meio em que vive. Afinal os livros são descendentes das árvores, vamos ler mais, cuidando melhor de quem nos apoia na leitura.
A chuva desconcerta quem hoje sai para trabalhar, as pessoas são como as formigas desorientadas, não conseguem alcançar os fins com a regularidade do costume. Nas Mouriscas os velhos estão a ver chover, a biblioteca ambulante momentaneamente retirou a visibilidade, abriu-lhes as portas. As histórias logo ali tão perto, os olhos esbugalhados interrogam-se uns aos outros, o que é isto? As memórias ali reunidas iluminam-se, para logo depois se apagarem repentinamente, não fosse a (...)
Na varanda, onde muitas vezes repouso o olhar, começo a distinguir para além do rio, ao longe, a aldeia de Arreciadas, repentinamente uma vaga de memórias alcança a minha ausência do momento. No pequeno banco sentado, o João e um saco cheio de histórias pousado no chão, aguarda a chegada da biblioteca ambulante. Agora que as histórias se afastaram, continuará o João nos dias assinalados estar de olhar atento lá em cima onde a estrada desemboca no princípio da aldeia, (...)