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Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

Histórias à Beira Rio, viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra

"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios." Paul Auster

01 Abr, 2020

Tenho saudades

  A charneca por onde a biblioteca ambulante desenvolve a sua missão, rolando nas estradas estreitas, sinuosas, de subidas íngremes, de descidas aceleradas, nesta altura estão cheias de plantas silvestres no auge da floração, onde se destacam as  flores brancas das estevas que se multiplicam aos milhares no território das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. O seu aroma é doce e a cor branca faz lembrar a neve que por aqui nunca se vê. Esta planta tem (...)
  As águas de uma das muitas extensões do rio Zêzere beijam os alicerces das casas no lugar de Sentieiras do Souto, o viajante das viagens e andanças na biblioteca ambulante, ao atravessar a rua estreita e mais importante quase molha a mão quando estende o braço. O rio fica para trás com as suas histórias, as outras continuam na subida íngreme na direcção da aldeia das Fontes. Altaneira de gentes simpáticas, situada defronte do rio, onde este  se deforma, engordando (...)
18 Jan, 2020

O rio

  Fui ver o rio, e o rio disse-me que estava arrepiado. Há muito tempo, leu uma história que lhe meteu medo. Foi de manhã cedo, o sol ainda não havia acordado. Ficou revoltado, na aldeia não acontecia alegria, as casas da aldeia estão vazias, não há cortesias, há melancolia. Tinha saudades do verão, das novidades que trarão, das pessoas novas que virão, na união dos que cá estão com os emigrados, os desconhecidos. Dos mergulhos, das brincadeiras, companheiras das manhãs, (...)
      Na aldeia do Souto só o ruído proveniente dos ramos das árvores impelidos com violência pelo sopro do vento se ouve. Nem de perto, nem de longe se vê alguém, quem transita pelas ruas da aldeia, como a biblioteca ambulante, devagar, com o viajente das viagens e andanças a olhar de um lado para o outro, sondando. Um caçador de leitores, perscrutando ruelas, as quinas, os recantos da povoação,  percebendo que o frio desta vez vai ganhar, ainda por cima, uma massa (...)
O sol ainda tentou, mas o enfraquecimento da temperatura sente-se nos ossos, é o frio o personagem principal do dia e das histórias de hoje, nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. Pelo menos o viajante das viagens e andanças foi às gavetas do vestuário de inverno escolher uma camisola que o possa agasalhar mais logo, quando rumar para as aldeias do Souto e Fontes. Situadas em relevos altaneiros, observando o rio Zêzere com orgulho, estas aldeias com (...)
  As viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, estão na estrada em direcção à aldeia da Bairrada. Empinada sobre o rio Zêzere, observatório natural de uma grande extensão, o rio, a floresta, interrompida por minúsculas manchas espalhadas de cores alanrajadas. Telhados de pequenas casas edificadas, misturadas com as árvores, segundas habitações, lares permanentes, acessíveis por caminhos estreitos e irregulares. Lugares recompensadores, de independência, (...)
  A exagerada frescura matinal surpreendeu o viajante das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, camisa sem mangas e bermudas, nada de mais para um dia de verão, no interior da biblioteca ambulante. No horizonte grossas nuvens surgem coagindo a vista a olhar mais que uma vez, com atenção para tais colossos. Na Aldeia do Mato esta voluntariedade da atmosfera puxou os aldeões de suas casas para as ruas, as hortas são esmiuçadas com exatidão, sendo as (...)
  Finalmente chegou o verão no final do verão, nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, a progressão nas distâncias continua, as histórias não se amedrontam com acontecimentos naturais, elas são ocorrências nas aldeias onde permanecem. Na aldeia de Martichel, são alvo dos olhares de quem atravessa a aldeia, de automóvel, a caminhar, abrandam, alguns com modo estupefacto. Interrogam-se, haverá quem leia na aldeia, não terão ofícios por realizar, as (...)
  O raiar do dia envia cores fantásticas e ao mesmo tempo anunciadoras do calor que se irá instalar mais logo no decorrer das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. O alarmismo desencadiado nas rádios e televisões são o exemplo que no interior o diabo anda á solta, como se quem ocupa este e outros territórios semelhantes não estejam familiarizados com este fenómeno. Estamos no verão é normal assim acontecer esta fúria dos elementos naturais. Seria tão (...)