O tempo é democrático, apesar dos defeitos que possui. Nem sempre se apresenta no período exacto do seu manifesto, apesar das previsões mostrarem muitas vezes o contrário. Sermos surpreendidos pela chuva abundante logo de manhã, quando acordamos, prontos para um dia primaveril e soalheiro. Ouvirmos o ribombar inesperado da trovoada ao longe, sentindo a mesma aproximando-se zangada. Usarmos vestuário inapropriado num dia desconcertante para a temperatura prevista, que não (...)
Subitamente, dou comigo a olhar as histórias mais recentes na biblioteca ambulante, destacadas, numa posição vertical, debruçadas nas estantes para o pátio das brincadeiras. Como elas, fixo o meu olhar para o mesmo sítio, a sujidade acumulada, vestígios de terra, minúsculos grãos de areias, espalhados no recinto, despertam-me, tenho que deixar a biblioteca ambulante no final do dia, nas instalações onde se limpam e lavam os veículos. O colega responsável pelo serviço irá (...)
Foram raios de sol, os que entraram pela manhã a revirarem do avesso a neblina matinal. Espevitando o estado da prostração, estampada no rosto do viajante das viagens e andanças. Enlearam histórias, como quem liga as linhas nos bordados, retiraram outras para lerem, muita actividade junta para o início da manhã na biblioteca ambulante. Soube em segredo, do descontentamento do proprietário de um café, referente ao estacionamento da biblioteca ambulante, sempre próximo de outro (...)
O vento puxa-me, não quero ir, o arco-íris é a ponte para chegar à outra margem do rio, nas viagens e andanças. O sol rasgou as nuvens ao meio, de um lado há alegria, no outro a tristeza. Em ambos há histórias contadas, há histórias por contar, a biblioteca ambulante está cheia delas. O vento não as levou, não sabe ler, é um conquistador, leva tudo à sua frente, de um momento, para o outro, conquista o mundo. A biblioteca ambulante não é o vento, voa nas asas deste, para (...)
O nevoeiro esta manhã não motiva ninguém a sair de casa para vir à biblioteca ambulante. Só mesmo quem tem de sair, pelo trabalho, pela necessidade de adquirirem géneros alimentícios, irem à farmácia, tão comum nos dias de hoje, as vacinas, os medicamentos, inevitabilidades sem sucesso, pois continuo a encontrar pessoas a fungarem. Caminham na rua encolhidas, o frio pesa-lhes no corpo, sempre apressadas tentando escaparem às maleitas do inverno. Abri a porta grande da (...)
O sol é o amigo, o confidente, o que estimula os ossos velhos, do homem que vê passar os veículos na estrada. Parece o título de uma história escrita por Georges Simenon, a diferença, está na via e no meio de transporte, todas as vezes que a biblioteca ambulante se demora na sua aldeia, vejo-o sempre de olhar perdido na sua estrada favorita. A única, possivelmente que observa. Também sabe onde estão, onde foram, os que por qualquer razão não se conseguem encontrar, sentado, (...)
As viagens e andanças com letras dissipam-se na névoa obstinada, as palavras das histórias diluem-se na água da chuva. A tarde, assim é um romance inacabado, uma história incompleta, faltando-lhe o derradeiro capítulo. A parte onde alcançaríamos o prazer da leitura, a fatia de bolo desejada por todos. O desenlace não vai acontecer, todas as palavras escritas para o expandir, afogam-se nas lágrimas dos personagens, na última parte da história. A guerra, o excesso de poder, (...)
O sol quente bate-me nas costas, vestígio do verão de S. Martinho, há uma mistura de roupas usadas pelas pessoas a deambularem na fuga que a estrada faz junto ao café. Uns trazem na cabeça gorros de lã, na esplanada, trajam camisolas com manga curta, bebem minis frescas, têm por companhia os tremoços e amendoins. Chegaram mais, combinam a presença num evento automobilístico, a conversa entre eles concentra-se nos automóveis modificados, Tuning. Imitam sons de motores, estão (...)
Parece-me que a chuva arrumou a trouxa e foi de vez para outras paragens. A névoa, presente, impede a observação do rio adormecido no amanhecer, no leito, há muito que desapareceram vestígios da sua navegabilidade. Nem uma âncora de memórias, visível, há para relembrar um passado rico em navegação e comércio. As passagens frequentes da biblioteca ambulante sobre este, na ponte que une as duas margens, permite ao viajante das viagens e andanças, avistar antigas indústrias (...)
Continuam a olharem a biblioteca ambulante, como uma extraterrestre, o E.T. vulgarizou-se após o filme produzido e dirigido por Steven Spielberg, em 1982. As bibliotecas sobre rodas já anunciavam histórias de seres oriundos de planetas desconhecidos, nos acervos que transportavam nos regaços. As naves voadoras, sem medo de penetrarem nos territórios fechados ao conhecimento, quando avistadas causam espanto, admiração e estranheza pelo seu aspecto, quantidade de livros, a missão (...)