O sol não consegue impelir para longe o ar frio na Aldeia do Mato, na fonte da aldeia a água continua a romper, também é ela que chama as pessoas à povoação, atestam garrafões como se não houvesse amanhã. É com desprazer que olho a felicidade da fonte ser tão útil, a minha só às vezes consegue matar a sede, não tem a afluência desta, a disparidade está no inesgotável fluxo de palavras. Nesta fonte as palavras não correm risco de seca, no passado fecharam-nas, não (...)
O estranho acontecimento do gafanhoto que gostava de ler livros do Stephen King, teria tudo para ser um título de uma história divertida. O personagem principal, quem se lembraria de um insecto saltador, leitor assíduo de histórias de um romancista norte-americano. Na história lerá saltando de linha em linha, de uma página para a outra, transporá demasiadas páginas de uma só vez, para voltar atrás noutro salto e recomeçar. Aqueles olhos esbugalhados, conseguirão envolver as (...)
Os panos dos chapéus de sol esvoaçam como se quisessem levantar voo, como muitas pesssoas da aldeia o fizeram. A biblioteca ambulante vai pousando aqui e ali, nas aldeias, umas com leitores, noutras nem por isso, um, dois, são os números que fazem levantar voo as histórias. Empurradas pelo vento que nasce na charneca, chegam às partes mais distantes do território que abrange o itinerário. Há dias de sorte, onde o tempo é apressado, os leitores, a leitura comentada, conversa (...)
A luz brilhante do sol em Martinchel não atrai leitores à biblioteca ambulante, junto das tílias as histórias protegem-se na sombra destas árvores. O odor que as suas flores libertam não se faz sentir ainda, não estão prontas para as infusões que abrandam a velocidade, muitas vezes furiosa das pessoas. A leitura não tem cheiro, apenas na imaginação de cada leitor, destapando as brochuras dos livros solta-se a fragrância das folhas causada pela impressão das letras. (...)
O calor está de volta, em Martinchel a biblioteca ambulante aproveita a escassa sombra que a tília consegue dar com as suas jovens folhas. Os leitores e as pessoas da aldeia são preguiçosos ou não gostam de ler, poucos jovens, demasiada idade nas pessoas, não são impedimentos para se aproximarem das histórias. A biblioteca ambulante volta sempre ao centro da aldeia, no pequeno largo com uma fonte, à beira da estrada que não se cansa dos veículos que não a deixam de atravessar (...)
A primavera beijou-nos de surpresa, as histórias, a biblioteca ambulante, o viajante das viagens e andanças estão cheios de sorte neste dia percorrido nas aldeias, também elas beijadas pelas águas do rio Zêzere. É pois um dia completo de beijos, juntando a estes os beijos dos leitores quando enfrentam as histórias na biblioteca ambulante. Beijos para aqui, beijos para ali, letras a beijarem-se, palavras a beijarem-se. Ler uma história, não é mais que um longo beijo de quem a (...)
O vento e mais poeira, marcam a manhã das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. No café o Nuno e uma cliente, ambos leitores da biblioteca ambulante ficaram com as cabeças encaixadas nas páginas dos jornais e das revistas. Uma leitura obrigatória sempre que venho à Aldeia do Mato. A informação periódica ainda é importante para alguns, um estímulo para outras leituras, uns preferem a informação desportiva, outros apontam à generalista e social. Gostam (...)
A tarde suplantou a manhã, agora na aldeia do Carvalhal com enormes nuvens no horizonte anunciando trovoada a aproximar-se, a biblioteca ambulante permanece numa das partes extremas da aldeia. A esplanada do café concentra algumas pessoas, todas têm máscaras no queixo, um acessório que veio para ficar. Para estes, as histórias são olhadas com indiferença, possivelmente têm nas suas casas, estantes a soçobrar com o peso destas. Muitas, ou talvez todas por folhear, por cheirar a (...)
A meteorologia previu e não se enganou, a chuva está aí novamente, e com ela o frio, que deixa qualquer um desprotegido que não se tenha precavido no vestuário. Estão oito graus centígrados, mais logo, pouco mais estarão nas viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra. Pelo menos, o viajante das viagens e andanças tem esperança de um, ou outro leitor, surjam nas aldeias de Martinchel e Carvalhal, as histórias não se intimidam, foram escritas para serem (...)