Atenção redobrada na condução da biblioteca ambulante com destino à aldeia da Foz. Esta aldeia é a mais distante nas viagens e andanças, encostada ao alto Alentejo, confinando com extensões de terra não cultivada do Ribatejo, território de animais silvestres, de gado bovino, disperso, apascentando numa condição quase selvagem. De alguma gente habitando estes campos agrestes, em lugarejos, no apoio, na alimentação suplementar, e água aos animais. Não se vê um palmo à (...)
A área plana acompanha a biblioteca ambulante, ladeando a estrada até à aldeia da Foz. Aqui e ali há cortes na fita verdejante, o homem altera, planta, semeia, o filme ganha personagens. Pessoas e animais contribuem juntos para a paisagem não ser entediante, são metros com imprevistos, emoções ou abalos. O avanço da película traz outros actores, diálogos, histórias de visões, o sobrenatural é uma realidade em muitos lugares. Não há vergonha no quotidiano, mostram o (...)
O rebanho, com as ovelhas colocadas umas seguidas às outras, acompanha o trilho a uma clareira rodeada por grandes sobreiros. As primeiras a chegarem estão com o focinho fixado na erva molhada que ocupa o espaço junto à estrada que dirige a biblioteca ambulante na direcção da aldeia da Foz. Observei a sofreguidão dos animais a devastarem a pastagem, uma página enorme onde as letras sumiam umas atrás das outras. Tal não era a voracidade empregada na leitura, (...)
Entrei no café, a penumbra envolvia o espaço, o preço da luz não está para brincadeiras, ainda por cima, só para iluminar as moscas. Estaquei na entrada, afinal, desta vez estavam uns cinco, sentados, em pé, silenciados pela chuva a cair na rua, olhavam para as garrafas de cerveja vazias. Agitei o momento, colocando jornais numa das mesas, sirvam-se, bebam as letras até ficarem ébrios, pensei eu, enquanto me dirigia ao balcão para pedir um café cheio. Percebi que os olhares (...)
O pequeno campo de melancias, onde algumas sobressaem pelo tamanho não passa despercebido ao viajante das viagens e andanças. É cobiçado pelo seu olhar sedento, pela vontade de uma fatia fresca do fruto, imóvel no meio das plantas. Nas aldeias alternando a continuidade das estruturas em alvenaria, deparo sempre com pequenas parcelas de terra cultivada a envolver, defronte a áreas habitacionais, hortas improvisadas. Com o tempo ganharam definitivamente os espaços ocupados por (...)
Curvado para baixo olhando o futuro sem perspectivas, sabendo se corrigir a postura verá o lugar onde o tempo que está por vir tem respostas. Não é exemplo único há muitos mais nas aldeias da minha terra, embaciados pela bebida não querem saber de mais nada. A caixa não traz mensagens novas do tempo, só a sua sombra sobressai quando está sol, depois fica tudo cinzento novamente, não acontece nada. A biblioteca ambulante e as histórias não os conseguem remover da (...)
Plantam-se cebolas na horta, seduz-se na biblioteca ambulante as pessoas a estabelecerem-se como leitoras. Numa e noutra dão-se esperanças, alimentos que trazem vigor e aberturas num horizonte desconhecido. Escreve-se na terra as palavras manteúdas, lêem-se na biblioteca ambulante outras pelas quais nos viciamos. Ambas promovem a evolução, o recomeço, a paisagem de um lado e outro da estrada está cheia de uma nova vida a despontar. As crias recém nascidas nos rebanhos não (...)
Nos confins do território das viagens e andanças com letras pelas aldeias da minha terra, a roçar o norte alentejano, na berma da estrada, a biblioteca ambulante reencontra os pastores apoiando-se no cajado a observar os seus rebanhos. Junto a estes os cães vigiando o movimento dos animais, a abundante erva trava-os de se desviarem dos locais escolhidos para permanecerem. O floreado silvestre vai conquistando a pouco e pouco o tapete verde, fico curioso por saber quem ganhará a (...)
As nuvens estão a aprisionar a tarde na cidade que acolhe a biblioteca ambulante. De manhã os ares campestres trouxeram leitores, a proximidade com as áreas de comércio de grandes dimensões, de restaurantes com refeições preparadas e servidas rapidamente não traz mais leitores. Infelizmente abordam com mais frequência o Centro de Saúde e a Clínica Médica, ambas coladas ao local espaçoso onde as histórias habitualmente estão acomodadas. Não sabem elas e eles que as (...)
As cegonhas perfilam-se nos postes destinados a sustentar os fios das telecomunicações ao longo da rua principal da aldeia, aos pares, nos ninhos, batem as mandíbulas rapidamente. Um sinal de alerta, um aviso da presença da biblioteca ambulante à população, presumo, seria bom se assim fosse. Habituadas à passagem das histórias, lentamente de uma ponta à outra da rua, na qual estaciona defronte do mini-mercado ligado ao único café da aldeia. Os homens encostados ao balcão (...)